“Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança…”

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por Alessandra Felix

Tive um professor de dança que dizia que, quando crianças, temos um desejo e habilidade natos para desenhar mas que perdemos quando crescemos, por críticas recebidas e um desejo de perfeição (nascido daquelas críticas?).

Eu acredito que é o mesmo com a dança. É nato. Quando pequenos não temos vergonha de dançarmos como quisermos, a única coisa importante é o bem estar que isto traz. Já viu uma criança sem se mexer ao som de uma música contagiante? Por acaso ela está preocupada com o que estão achando?

Eu amava a dança quando pequena! Ficava grudada em filmes com coreografias, tentava repeti-las à exaustão. E não era perfeito. Não, não… de jeito nenhum! Mas era uma felicidade quando afastava os móveis da sala e ficava saltitando ao som do rádio, liberdade pura!

"O Botequim” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo

“O Botequim” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo – Out/2011 – Teatro São Francisco

Fiz balé muito pequena e quando meu pai descobriu que faríamos uma apresentação na TV, me tirou das aulas. Mais adolescente, voltei para o Jazz. Foi incrível enquanto durou…. meus pais me tiraram das aulas quando a professora depositou um cheque pré-datado na data errada… coisas da vida! Não sei se me tornaria profissional, mas a vontade de dançar sempre esteve presente.

Então… dancei muito! Mal ou bem, adorava ir para as discotecas requebrar o esqueleto até não aguentar mais. Em uma época que os amigos frequentavam lugares da moda para conhecer seus pares, eu não estava nem aí para minha transformação depois de dançar algumas músicas: parecia que tinha corrido uma maratona e obviamente saía sozinha das baladas. Mas com a alma limpa!

Para espantar as bruxas nada melhor do que passar a noite dançando!

Há quase 10 anos tive uma grande vontade de fazer aulas novamente. Nesta busca, acabei achando uma escola de sapateado. Não era o objetivo principal, mas não consegui achar algo que eu gostasse em outras modalidades e resolvi tentar. Foi paixão à primeira vista!

Já tivemos aqui um texto sobre sapateado, da querida Mariana Nogueira (Sapateado e Corretagem: tudo uma questão de “timing”!), outra apaixonada por dança!

“Dance, senão estamos perdidos” Pina Bausch

“Mais uma da Família Addams” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo

“Mais uma da Família Addams” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo – Nov/2013 – Teatro Santo Agostinho

Um pouco de história

Sem registros históricos que possam precisar datas e locais, sabe-se muito pouco a respeito das origens do sapateado: algumas das suas primeiras manifestações datam de meados do século V. Posteriormente, desenvolveu-se a partir do período da primeira Revolução Industrial. Os operários costumavam usar tamancos (clogs) para isolar a umidade que subia do solo e, nos períodos livres, reuniam-se nas ruas para exibir sua arte: quem fizesse o maior e mais variado número de sons com os pés, de forma mais original, seria o vencedor. Por volta de 1800, os sapatos foram adaptados especialmente para esta dança. Os calçados eram mais flexíveis, feitos de alumínio, e moedas eram fixadas à sola, para que o som fosse mais limpo. Mais tarde, finas placas de pedra (taps) passaram a ser fixadas no lugar das moedas, o que aumentou ainda mais a qualidade do som.

Nos EUA desenvolveu-se o chamado sapateado americano, introduzido no país por volta da primeira metade do século 19, na fusão que uniu ritmos e danças dos escravos, que já possuíam um estilo de dança próprio baseado nos sons corporais, com os estilos de sapateado praticados pelos imigrantes irlandeses e colonizadores ingleses.

A forma irlandesa do sapateado – também chamada de Irish Tap Dance – concentra-se nos pés, o tronco permanece rígido; já os americanos realizam sua Tap Dance esbanjando ritmos sincopados e movimentos com o corpo todo, abrindo a dança para o estilo próprio de cada executor. O sapateado americano acrescentou à forma irlandesa da dança toda a riqueza musical e de movimentos dos ritmos dançados pelos africanos e com isso criou uma modalidade de dança ímpar e que se espalharia, posteriormente, por todo o território dos EUA e, durante o século XX, diversos outros países.

A partir da década de 30 o sapateado ganhou força e popularidade com os grandes musicais, que contavam com a participação de nomes como Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, Vera-Ellen e Eleanor Powell. Depois de um período de declínio do final da década de 50 ao inicio dos anos 70, nomes como Gregory Hines e, em especial, Brenda Bufalino (diretora da American Tap Dance Foundation) revitalizaram o sapateado americano, impulsionando toda uma nova geração, de onde surgiram nomes como o do grande astro Savion Glover, recentemente coreógrafo dos pinguins do filme Happy Feet.

Profissionais de sapateado americano realizam periodicamente workshops e shows internacionais, levando a arte do sapateado para diversos países: além da Irlanda e Estados Unidos, países como França, Austrália, Alemanha, Espanha, Israel e Brasil possuem grupos, coreógrafos e estúdios de sapateado de expressão. O Brasil, em particular, recebe anualmente diversos profissionais americanos como forma de intercâmbio entre os grandes mestres da tap dance e os diversos núcleos de sapateado existentes por todo o território nacional.

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sapateado)

Foi uma das melhores experiências da minha vida!

Não só pude aprender a arte de sapatear como também voltei a me apresentar nos palcos. Nos fins de ano em que fiz parte do Studio Fla Scalzzo, participei de musicais que apresentavam coreografias, mas também um pouco de teatro. E voltei ao Jazz, com o querido professor Daniel Suleiman.

“The Beatles – Uma História de Amor” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo

Cada fim de semana de apresentação tinha uma dedicação exclusiva de todos os participantes. A primeira sessão começava na noite do sábado, mas de manhãzinha já estávamos todos no teatro, prontos a ajudar na cenografia, produção, ensaios, maquiagem, figurino e o que mais aparecesse. Uma equipe reunida com um só objetivo: de fazer as apresentações acontecerem no seu melhor. Isso até o Domingo à noite, horário da última apresentação.

“Nos Bastidores da Broadway” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo

“Nos Bastidores da Broadway” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo – Nov/2011 em Hotel Estância Barra Bonita

Trabalho desde os 16 anos e foi a primeira vez que vi um espírito de equipe tão forte. Toda aquela linda teoria de recursos humanos que estudei na faculdade e que não tinha encontrado até então em ambiente profissional estava ali. O ano inteiro estudando, decorando coreografias, muitos ensaios aos fins de semana perto do espetáculo e colaboração de todos no final.

Hoje sei o que é isto em ambiente profissional, vejo este mesmo espírito desde que entrei na Refúgios. Trabalhamos, ensaiamos e estudamos todo o tempo para que o resultado seja o melhor.

Nestes tempos de isolamento temos falado muito de como a música é importante, como nos faz bem. Cantando ou dançando, resgatamos aquela criança que não tem medo de críticas e que se contenta com o que faz naquele momento, que é o seu melhor.

Faço um convite aqui: cante junto com a sua música preferida ou, melhor ainda, empurre os móveis da sala e cante e dance! Alívio na certa!

“Anything Goes” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo

“Anything Goes” – Studio de Sapateado Flá Scalzzo – Nov/2014 – Teatro Sir Isaac Newton.

E, se você amar musicais como eu, escuta esta playlist que preparei com muito carinho:

https://open.spotify.com/playlist/25tEEKclqCC9PISC7UvKqq?si=fsOxMVhzSoCJu8WAeN4gPg

 

*Oswaldo Montenegro em uma citação que lembra muito aquela do Friedrich Nietzche: “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”

 

Para outras citações e textos ligados à dança:

https://www.superprof.com.br/blog/danca-proverbios/

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sobre o autor

Alessandra FelixCorretora Associada

Administradora de Empresas formada pela PUC-SP, desenvolveu sua carreira em Recursos Humanos, onde desenvolveu sua paixão por relações interpessoais. Acredita que os relacionamentos podem ser colab...

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