Morro do Querosene, ou “nem parece que estou em São Paulo!”
VoltarDez entre dez visitantes das casas à venda no Morro do Querosene proferem a frase do título dessa crônica em algum momento. ‘”Nem parece que estou em São Paulo”, seguido de um largo sorriso é reação comum de quem se deixa encantar pela beleza dessas bandas de cá.
As ruas tortuosas com casas coloridas e cheias de artes urbanas espontâneas nos transportam a um tempo e um lugar que não estamos acostumados.
Chegar no alto do Morro – muitas vezes faltando o ar nos pulmões e sobrando encantamento nos olhos – é ser recompensado pelo desenho das ruas que se encontram em cruzamentos tranquilos e calçadas com árvores enraizadas que ainda brotam flores e frutos em abundância.
O Morro do Querosene fica dentro do bairro do Butantã. Seu nome oficial é Vila Pirajussara, mas seu apelido é muito mais utilizado e conhecido nos cotidianos de quem vive e conhece o lugar.
Apelido esse que se deu pois, nos primórdios da ocupação do bairro, não havia luz elétrica pública disponível, não havia gás, água e nada do tipo. Então um senhor que possuía querosene, passava vendendo a substância e gritando “olha o querosene, olha o querosene”… e as donas de casa saíam com suas garrafas vazias para encher com o destilado.
Assim, os lampiões que iluminavam as parcas casas da região, eram alimentados com querosene, fazendo a fama e dando o nome popular do bairro, de Morro do Querosene.
O clima, até hoje, é quase de interior. E os vizinhos se orgulham e empenham em manter a tradição de conhecer cada morador das casas ao redor. Uma comunidade que mantém e alimenta um vínculo raro de se encontrar em São Paulo.
É comum, ao caminhar na região, ouvir gritos de vizinhas se cumprimentando, perguntando da saúde da fulana, ou se beltrano voltou pra casa!
E basta pintar um vizinho novo que a comunidade se empenha em se apresentar, oferecendo ajuda, contando histórias e já fazendo com que aquele novo membro se sinta pertencente àquela vizinhança.
Essa atitude, tão comum e natural dos habitantes do Querosene, nos faz perceber que o Morro não é só mais uma região metropolitana da cidade, mas uma comunidade permeada de afeto.
Ficou com vontade de morar aqui? Corre, porque as moradas disponíveis costumam durar pouco tempo!
Bibliografia auxiliar
SANTOS, L. M. Dos encontros com cultura popular no Morro do Querosene: um estudo do movimento bairro/comunidade. 2015
SANTOS, L.M., SAWAIA, B.B. Um mergulho no “Morro do Querosene” e o encontro com os artistas do invisível: reflexões sobre arte, comunidade, afeto e práxis psicossocial. 2016
Fonte da imagem
Acervo do Museu Paulista – USP
sobre o autor
Renata NogueiraSócia Proprietária
Nascida na capital paulista, se mudou aos 18 anos para o Rio de Janeiro, onde graduou em Arquitetura e Urbanismo, e concluiu seu mestrado em Memória Social, estudando os cemitérios como patrimônio ...
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nós anos de 1965 a 1969, caminhava diariamente pelo morro do querosene, indo e voltando para o ginásio Pro. Messias Freire(morava no Previdência).
Ali fiz muitas amizades, tempos saudosos da minha juventude. Eu era conhecido como Dinho. Recordo de alguns nomes de rapazes lá do morro, Grafiette , Zé Luiz, Corte, Betinho, Arnoldo, Pinduca, Tiquinho, Januário , etc…