A sacada sobre uma singela sacada

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Por Camila Raghi

Há mais de um ano, em um post sobre o Natal de 2018, prometi que escreveria sobre minha paixão por plantas no ano que adentrávamos…

Pois bem, já estamos em abril de 2020 e este texto nunca aconteceu…não por falta de amor aos meus verdinhos, é claro. Talvez pela loucura da vida, pela falta de tempo, ou porque sempre aparecia um outro assunto mais urgente pra resolver…quem sabe até aguar minhas plantas fosse uma dessas prioridades do ano que se foi, e do qual não me dei conta de como voou.

Agora, em plena quarentena, resolvi dar atenção a este assunto que me é muito caro e sobre o qual tenho imenso orgulho em falar!

Tcharam…Das minhas lindas plantas, e do dedo verde que descobri ao longo dos anos, você deve estar pensando, querido leitor?

Também, mas não exatamente:)

Sim, meus caros, parafraseando o título desta coluna tão querida a todos nós, refugiados urbanos, e que nas últimas semanas tem sido um misto de válvula de escape e divã de psicanalista, faço por aqui uma singela homenagem as Sacadas de nossas casas.

Balcão, terraço, varanda…seja lá o nome dado a este espaço ao ar livre tão precioso hoje em dia, quem não quer ter um?

Era uma vez uma mocinha arquiteta apaixonada por São Paulo, que alugava uma cobertura na praça Roosevelt. Ela tinha uma linda e grande sacada, com muito sol, uma vista poética e muitos cactos que aguentavam o sol da tarde. Ah, sim, e uma rede, pronta pra se encharcar todos os dias no fim das tardes de verão, pois a varanda não tinha cobertura. Esta moça era muito feliz lá, no seu mundinho de 15m2, do alto do 24º andar.

Um dia, por amor (e porque o aluguel ficou bem difícil de pagar) ela resolveu juntar suas trouxinhas e se mudar para um apê pequenino que seu novo namorado habitava, em Pinheiros. Era o fim de uma linda história de amor entre ela e seus cactos, que foram adotados por uma aconchegante casa no interior de São Paulo.  E eles viveram infelizes para sempre? Simples assim? Pode isso produção?

Não não não…Uns dois anos se passaram até que um raio caiu em sua cabeça, assim, do nada.

Em seu quarto havia uma pequena sacada, pititica mesmo, 3m2, que era usada por depósito por seu namorado. Sim, de tudo um pouco era encontrado por lá…lata de tinta, vasos mortos, muito entulho e até uma mala encharcada (assim como a rede) andava por lá se desbotando.

Acordou em um feriado disposta a mudar o rumo dessa história. São Paulo já era concreta demais, ela precisava de um verdinho que ajudasse a encarar feliz a vida em uma metrópole.

Arregaçou as mangas e começou a pensar por onde começaria, foram finais e finais de semana dedicando-se a um único projeto: a revitalização de sua sacada e de seu amor pelos verdinhos! Usou toda sua criatividade de arquiteta e a boa vontade do namorado em pintar e furar paredes e a varanda foi tomando forma…

Primeiro recuperei a guarda dos meus antigos cactos, depois fui comprando novas mudas, vasinhos da Cobasi, do Ceagesp, dos amigos, dos vizinhos…Aquela alegria! Isso foi a mais ou menos 3 anos.

O que era pra ser um cantinho feliz virou minha terapia, colocar a mão na terra aos domingos começou a me fazer até a declinar convites de churrascos em casa de amigos. Era começar pra não querer mais parar.

Depois da bonança, quando a brincadeira vira boa mesmo, vem a pegadinha do malandro: as pragas, os bichinhos e o exercito de bandidos que tentam atacar nossa horta da maneira mais desonesta possível. Mais uma lição: livro de botânica, cursos, enfim, o arsenal todo do dedo verde de carteirinha.

Plantar e ver nossos verdes crescendo felizes é sempre uma aula sobre resiliência, sobre a difícil arte de resistir muitas vezes com muito pouco: água, amor e muita esperança. E também sobre os ciclos, o tempo: começo e fim de tudo.

Claro, como na vida, na minha sacada não podia ser diferente: nem tudo são flores.  Já matei muitas plantas – não é com orgulho que conto isso -, mas também já ressuscitei várias e hoje posso me orgulhar de ter uma selva em plena Cardeal Arcoverde! Meu pulmão verde!

Esses dias, em plena quarentena, pilhada que estava, ressignifiquei mais uma vez esse cantinho do meu paraíso particular…

Novas prateleiras (pro meu gato subir e curtir a vista), e uma rústica cadeira de três pés, trazida do interior de Minas, deram outra cara pra este espaço tão gostoso. Até violão tenho tocado lá, tomando meu banho de sol a tarde.

Como consultora imobiliária, há muito tempo percebo o quanto estes espaços ao ar livre são importantes no dia a dia de quem mora em uma cidade como São Paulo.

Atualmente, considero um dos requisitos mais procurados por quem busca apês em Pinheiros e na Vila Madalena!

Pudera, tem coisa melhor que esticar uma rede, tomar um sol e ler um livro ao ar livre?

E você? Tem uma sacada pra chamar de sua?

Conta pra gente!

 

 

 

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sobre o autor

Camila RaghiCorretora Associada

Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), trocou Curitiba por São Paulo há mais de dez anos para se dedicar às suas maiores paixões: projeto e restauro. Após ...

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