Sobre viver a cidade (ou não)

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Por Rafael Sorrigotto
Sobre viver a cidade (ou não)

Pela minha formação tenho um relacionamento sério com as cidades.

 

Ainda mais pelo fato de ter estudado Arquitetura e Urbanismo em uma universidade com um viés fortemente voltado à visão integrada das disciplinas de arquitetura, urbanismo e paisagismo com um foco apaixonante pela questão urbana. Isso refletiu muito em minha vida: onde moro, trabalho e tenho minhas opções de lazer.

Logo que cheguei em São Paulo, a contra gosto do meus pais que moram no interior, senti na pele a diferença no dia a dia de quem saiu de uma cidade mediana para uma metrópole. Trânsito, poluição, muita gente pra todo lado. Mas de maneira alguma isso tudo me assustou; pelo contrário.

Coloquei na cabeça o alto preço que pago por morar numa cidade tão grande – complicações na locomoção pelo excesso de gente, dificuldade em honrar horários, poluição sonora, visual e ambiental. Frente a isso decidi que tinha que fazer valer, de alguma forma a tal “conta tem que fechar”, sabe? Pois bem, o plano é: já que existem perrengues, que eu organize a minha rotina pra que frequentemente use todo o potencial que a cidade me proporciona. Pronto, problema resolvido.

Juntou a fome (inquieto que sou) com a vontade de comer (a cidade que não para nunca). Quem me conhece mais de perto sabe: sempre estou fazendo algum curso, visito frequentemente museus, assisto shows, vez ou outra filmes e teatros. Diariamente faço trajetos a pé; todo dia tento passar por ruas que ainda não conheço bem, paro em pequenos comércios e tento sugar ao máximo da cidade que me suga. Isso me lembra até o trecho de um verso do incrível Arnaldo Antunes, “sugando o sangue de cada segundo”.

Nem todos têm essa visão; pra muitos existem problemas na cidade e a forma de combater é o enclausuramento, é a mudança na rotina pra evitar regiões/pessoas problema. Prefiro o caminho por vezes mais duro, desafiador e, sem dúvida, mais recompensador.

Dia desses conversei sobre isso das pessoas se fecharem na tal bolha – que pode ser o condomínio, o carro e até o fone de ouvido. Já reparou na quantidade de gente que chama um táxi ou coisa que o valha pelo aplicativo do celular e fica quietinho pra dentro do portão do prédio ou casa esperando ele estacionar bem na frente pra pessoa olhar de um lado e outro – a barra tá limpa – corre!

Vupt, entrou no carro feito um tiro, que supostamente é o medo. Como se na rua sempre existissem pessoas com más intenções portando armas e armadilhas ou até mesmo que a chuva ou o sol estrague tudo o que foi produzido – roupa, cabelo, maquiagem – dentro da bolha.

É, somos bem diferentes uns dos outros.

Tem jeitos e jeitos de escolher o bairro onde moramos, principalmente em função do que queremos lá. Se vamos de fato nos abrir a vivenciá-lo ou não. E cada um também tem os seus motivos pra argumentar em relação à escolha; eu, por exemplo, busco estar sempre perto de diversas opções de restaurantes, lazer e cultura pra tal da conta – que comentei anteriormente – fechar positiva (ganho eu e ganha a cidade).

Se sim, a dica é buscar um bairro caminhável, emaranhado de teias de metrô e ônibus, no qual você possa se jogar pra conhecer coisa nova sempre que quiser. Caso contrário, qualquer lugar está valendo; não precisa de nenhum atrativo de lazer e cultura. Basta um Haganá na portaria e está tudo certo.

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Rafael Sorrigotto

sobre o autor

Rafael SorrigottoSócio-Proprietário

Arquiteto por formação, corretor por paixão e cozinheiro no tempo livre! Sócio da Refúgios Urbanos, é formado pela UNESP, cursou pós-graduação na FIA Business School, em Negócios do Merc...

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