Sobre morar e plantar sementes

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Por Rafael Sorrigotto
Sobre morar e plantar sementes

O déficit habitacional brasileiro toma proporções inimagináveis, a ampla crise do simplesmente morar.

A falta de paredes, piso e teto leva famílias às ruas e as deixa em situação vulnerável. A vida encontra um meio, não pode ser contida. E aí surgem as opções que tanto incomodam as mídias e a política: favelas, ocupações e, pior, famílias que se acomodam pelas ruas e viadutos da cidade.

O que se viu no caso do edifício Wilton Paes de Almeida, obra icônica do arquiteto sírio-brasileiro Roger Smekhol no Largo do Paissandu, não foi acidente. Tampouco uma fatalidade: é um caos anunciado, como tantos outros espalhados pela cidade.

O problema da moradia no Brasil vai muito além da escala urbana de se pensar uma redemocratização das ruas através da implantação de ciclofaixas, da humanização e qualificação das calçadas, de políticas que engajem o passeio pedonal e o zelo dos olhos das pessoas nas ruas com as cidades. Ainda não chegamos no mínimo necessário para nos atentarmos aos pontos levantados por Jane Jacobs. Infelizmente as nossas cidades morrem, a cada dia, com mais pessoas sem condições mínimas necessárias para sobrevivência.

As favelas, as ocupações e os grupamentos de moradores de ruas que escancaram a problemática a nós diariamente são apenas o termômetro do sufoco que é estar à margem. Não é uma escolha, pelo menos na grande maioria dos casos.

Em paralelo a isso, diversos projetos e ações sociais trazem um pouco de alento a essa população. Desde a distribuição de cobertores, comidas, brinquedos, companhia. Qualquer ajuda faz diferença, inclusive nos atentarmos à indiferença: olhar nos olhos, desejar um bom dia. Ainda que não mate a fome, que não proteja do frio, traz uma atenção muito rara e valiosa a qualquer pessoa, ainda mais quando se está em situação de vulnerabilidade.

Trabalhamos no mercado imobiliário e sentimo-nos no dever de, tanto quanto possível, ajudar na questão da moradia digna às pessoas que têm essa carência. É fato que uma família que vive em um ambiente agradável, higiênico e seguro tem um panorama bem mais propício a conseguir se reerguer, juntar forças e lutar por melhores condições de vida à sua família.

Em paralelo às ações individuais de cada um de nossos colaboradores em função das questões que mais tocam a cada um de nós, a Refúgios Urbanos tem o orgulho de fomentar junto à equipe desde o final de 2017 uma parceria com um projeto que visa à requalificação de moradias em regiões mais afastadas da cidade de São Paulo.

O Programa Vivenda tem como lema uma frase bem impactante e muito real: a mudança vem de dentro. Eles (e nós!) acreditam que uma família que consegue ajustar a moradia de forma a conquistar um mínimo de qualidade de vida, com as devidas preocupações sanitárias, higiênicas e até estéticas, tende a ser, esse, um propulsor de mudanças naquele núcleo. É o começo de tudo, como uma alavanca.

Recentemente participamos da entrega de uma obra que financiamos através da destinação de parte da verba levantada com as vendas feitas pela imobiliária. Desde o início da parceria, toda venda efetivada tem parte dos recursos destinada ao projeto. Juntando um pequeno montante de cada negócio realizado conseguimos viabilizar a reforma de um cômodo de uma casa. E assim por diante.

Parece muito pequena a ação, de baixo impacto para quem já vive em condições ótimas de moradia e qualidade de vida como nós. A diferença é sentida mesmo na pele: quando entregamos a obra, conhecemos a família, ouvimos suas histórias e sentimos a diferença que uma pequena reforma na casa faz na vida dessas pessoas. No sorriso, os sonhos que brotam. É uma semente que, juntos com nossos clientes, plantamos. Dia após dia.

Uma pequena ação que já traz um impacto bastante expressivo na vida de um pequeno grupo de pessoas.

Dessa forma podemos, à nossa maneira, ajudarmos a minimizar as consequências desastrosas que podem gerar a problemática do défict habitacional no Brasil. Em paralelo, a importância de estarmos o tanto quanto possível próximo de nossos políticos e entidades que tiverem alguma articulação no sentido de trazer para a vida real soluções que de fato tragam soluções para uma habitação digna a todos. Confiamos o voto nas eleições, precisamos acompanhar o trabalho nos quatro anos que seguem.

Enquanto isso não acontece, cada semente que plantamos faz toda a diferença.

Já plantou a sua hoje?

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Rafael Sorrigotto

sobre o autor

Rafael SorrigottoSócio-Proprietário

Arquiteto por formação, corretor por paixão e cozinheiro no tempo livre! Sócio da Refúgios Urbanos, é formado pela UNESP, cursou pós-graduação na FIA Business School, em Negócios do Merc...

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