Restauro e Patrimônio Histórico no Brasil – com Vanessa Kraml

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por Matteo Gavazzi

 

Hoje tive o prazer de entrevistas a Arquiteta Vanessa Kraml.
Nosso papo foi sobretudo sobre restauro artístico/arquitetônico e patrimônio histórico no Brasil.
Vale muito a pena a leitura !

MG – Vanessa nos conte um pouco da sua experiência como Arquiteta e Restauradora, desde os cursos na Italia ate suas obras no Brasil. 

VK – Após a graduação em Arquitetura e Urbanismo tive a felicidade de realizar o meu sonho de morar em Roma entre os anos 2000 e 2004, e estudar Restauro de Monumentos na Universidade La Sapienza, vivência que me proporcionou experiências maravilhosas como ter aulas com os professores Giorgio Torraca, químico brilhante e pioneiro na ciência da conservação, e Giovanni Carbonara, notável teórico de restauro, e participar de canteiros didáticos no Castelo Caetani, onde restauramos parte das fachadas, e no Anfiteatro Flavio, mais conhecido como Coliseu, executando escavações arqueológicas.

Quando voltei para o Brasil fui contratada para coordenar os projetos da RBR Arquitetura e Restauro, e durante quatro anos  tive a oportunidade de desenvolver diversos projetos de conservação e restauro em bens imóveis, dentre eles Catedral de Florianópolis, Ponte Pênsil Alves Lima e Igreja Nossa Senhora da Escada.

Em 2009 decidi fundar a VK Arquitetura e Restauro e desde então desenvolvemos diversos projetos de conservação e restauro, como por exemplo da Academia Paulista de Letras, Forros do Museu Paulista, ETEC Santos, Capela Passo da Via Sacra São Vicente de Paula e Armazém de Mercadorias, sendo que na Capela e no Armazém também executamos o restauro.

MG – Sao Paulo tem muitíssimos Monumentos espalhados pela cidade mas a maioria acaba sendo danificada ou esta mal cuidada. Porque isso acontece e qual poderia ser uma possível Solução?

VK – Os monumentos da nossa cidade encontram-se abandonados porque não há um trabalho de  difusão e valorização dessas maravilhosas obras de arte que temos por toda a metrópole. Precisamos de ações efetivas em Educação Patrimonial com os jovens, para que eles não vandalizem o nosso patrimônio cultural no presente e zelem por ele no futuro.

MG – Porque o Patrimônio no Brasil e em Sao Paulo no geral ainda não è visto como um ativo com o qual tornar as cidades mais atrativas e turísticas e consequencialmente gerar mais rendas e lazer para seus habitantes/vistantes direta e indiretamente? 

VK – Por falta de conscientização da sociedade no que tange ao potencial da nossa herança cultural e de apoio do governo.

MG – Restauro : Lei Rouanet e Dinheiro Publico são os únicos caminhos pra conseguir cuidar do nosso patrimônio histórico? 

VK – É possível encontrarmos empresas e pessoas físicas que estejam dispostas a salvaguardar o nosso patrimônio cultural sem leis de incentivo, mas precisamos de um número mais representativo de adeptos à causa. Para atingirmos esse objetivo é fundamental sensibilizarmos possíveis financiadores a preservar nossos bens móveis e imóveis, portadores de nossa história, com o objetivo de garantir a sua permanência para as gerações futuras.

MG – Porque uma empresa deveria investir dinheiro vivo em patrimônio histórico? 

VK – Para valorizar a cultura brasileira e preservar a memória de nosso país. Em contrapartida agregará valor à sua marca

MG – Qual è o restauro que ate hoje te deu mais trabalho? 

VK – O Armazém de Mercadorias em Santos, pelas dimensões e complexidades nas questões estruturais e materiais.

MG – E o Restauro que te deixou mais satisfeita?

VK – O restauro que executamos em Piracicaba na Capela Passo da Via Sacra São Vicente de Paula, uma relíquia por ser a última capela de passos da via sacra remanescente no Estado de São Paulo. Apesar de pequena executamos um restauro completo, com escavação arqueológica, reforço de fundação, restauro arquitetônico e artístico, além de propormos intervenções, após uma análise crítica do monumento, onde construímos um pequeno anexo, “soltamos” a edificação e fizemos um novo acesso aos recuos.

MG – E qual o sonho? Qual “peça” do Patrimônio histórico Paulistano você gostaria de ver reviver? 

VK- Sonho em ver o nosso patrimônio ferroviário revitalizado, incluindo as estações, pátios e vias férreas. Temos muitas obras primas da arquitetura e engenharia da segunda metade do século XIX e início do XX que infelizmente se transformaram em ruínas, como o sistema funicular da Serra do Mar. São documentos edificados de enorme relevância histórica por seu papel  fundamental no desenvolvimento de nosso país, como por exemplo todos os bens deixados pela São Paulo Railway, que lamentavelmente encontram-se em péssimo estado de conservação.

MG – Porque fundaste a Revista Restauro? Qual a periodicidade e Quem vai escrever nela? 

VK – Quando morei na Itália encontrava publicações de restauro e conservação nas bancas e muitas edições especializadas nas livrarias, e eu, uma apaixonada pelo assunto, me encantava com tantas opções que lá existiam e investia grande parte do meu dinheiro em livros e revistas.

Quando voltei para o Brasil já senti falta de publicações sobre o tema e pensei em um dia editar uma revista brasileira impressa. Em um encontro fortuito e feliz, durante um passeio pelo centro, conversei a Iná e a Manoela sobre esse meu desejo e elas logo aceitaram formar uma equipe para idealizarmos a Revista Restauro. Fizemos reuniões por seis anos e desenvolvemos o projeto, que a princípio seria viabilizado por lei de incentivo mas, por conta das dificuldades encontradas durante o processo, foi realizada sem nenhum patrocínio.

A Revista Restauro é uma publicação de fluxo contínuo, e agrupamos os artigos por semestre para compormos as edições. Convidamos alguns profissionais para escreverem artigos, mas também recebemos colaborações espontâneas de profissionais e estudantes. Todos os interessados podem submeter o seu artigo à Comissão Editorial. As normas e mais detalhes sobre a publicação podem ser encontrados no site da Revista: www.revistarestauro.com.br.

Foto : A Arquiteta Vanessa Kraml iniciando uma prospecção pictórica no retábulo da Capela Passo da Via Sacra São Vicente de Paula em Piracicaba.
Nesse momento ela descobriu a marmorização original (linhas cinzas).

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sobre o autor

Matteo GavazziSócio-Fundador

Nascido em Roma, Itália, onde viveu até seus 20 anos, mudou-se para São Paulo em 2010, fazendo o mesmo caminho e trazendo os mesmos sonhos de Giuseppe Martinelli, um de seus maiores inspiradores. ...

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