Dia do Porteiro! Uma Homenagem!

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por Matteo Gavazzi

Dia 9 de junho é o dia do porteiro.

Eu vou me antecipar nessa homenagem porque esses “Dias” nunca são divulgados na mídia.

A verdade é que ainda temos, infelizmente, profissões de Série A, B e C.

Eu estou em uma de série B, corretor de imóveis, profissão que nunca é levada a sério de primeira. Não como um médico ou advogado, pelo menos.

Verdade seja dita, a frase “papo de corretor” tem lá seus motivos para existir, mas generalizar nunca é legal.

Voltando ao nosso assunto inicial, os porteiros são parte integrantes do nosso dia a dia, e não falo como corretor, porque dou de cara com muitos deles o tempo inteiro, falo de todos nós, pois, eles ainda estão na maioria dos prédios por aí.

Hoje, em homenagem ao dia deles, quero falar dos que eu mais me relaciono. Daqueles que acabei conhecendo as histórias de vida. Dos que entraram no meu coração para além do meu dia a dia.

São três. Quatro na verdade.

Raimundo, porteiro e zelador do prédio onde eu moro, Francisco e Maria do Palacete Chavantes, onde eu trabalho.

O Raimundo é um cara de bem com a vida. Todo dia chega com a mochilinha dele onde guarda o cigarrinho, uma caneca para o café e outros poucos pertences do seu cotidiano. Não teve um dia sequer nos últimos 3 anos, em que a gente se vê toda manhã, no qual ele não tenha me dado “bom dia” com um sorriso de orelha a orelha. Tudo bem que eu também sou uma pessoa alegre, de bem com a vida e meus bom dias são sempre entusiastas, mas esse cara sempre me respondeu “à altura”! Ele adora meus cachorros, brinca com eles, é realmente uma pessoa que dá prazer de encontrar saindo e voltando para casa.

Em uma das últimas reuniões de condomínio foi cogitado mandar ele embora, mas a maioria dos moradores recusou e reclamou que isso tivesse sido colocado em pauta. E não pela questão técnica de ter ou não um funcionário. Pela Pessoa. Pelo ser Humano. Todos queriam continuar com ele por perto. Guardando nosso prédio.

E que fique ainda por muitos anos. Até quando ele quiser.

 

Francisco e Maria, são um casal de porteiros e zeladores do Palacete Chavantes há mais de 30 anos.

O Francisco de cara é fechado. Eu namorei esse prédio e tentei fazer amizade com ele durante muito tempo. Mas nada. Ele sempre respondia curto: “Tem nada aqui pra vender não moço”. Até que passa um dia, volta na semana seguinte, puxa assunto no mês que vem, ele se deu conta que eu não iria desistir e um dia me disse “Passa daqui 2 meses que vai aparecer uma sala para vender”. Marquei umas três datas na agenda, 40, 50 e 60 dias para voltar lá e não deixar essa oportunidade passar. Por fim, a sala apareceu. Mas o namoro durou mais de 1 ano até virar casamento.

Hoje o Francisco, que eu chamo de Francesco com meu sotaque italiano, já é meu amigão. Aquele ar fechado já virou belas risadas que ele dá para as minhas brincadeiras. Lembro que quando mandei refazer a seta em latão para o elevador ele me disse “Você é foda hein, menino! Gosta mesmo desse prédio”. E seus olhos brilharam num misto de alegria e emoção. Ele também adora o prédio. É a sua vida. Pensa, mais de 30 anos vivendo ali. Não tem como não virar uma coisa só.

Por fim, Maria. Grande Maria! Sabe uma pessoa doce? Maria. Ela. Mas não de cara. Nã nã nã. Ela só da confiança para quem ela quer.

A conquistei com pequenas gentilezas diárias, desde levar alfajor, pão de queijo e cafezinho, até ficar lá sentadinho perto dela esperando o elevador e batendo aqueles papos curtos sobre o tempo, sobre a vida e sobre o que der e vier.

 

Por fim, e por essas vocês não esperavam, o Demerval! O cara da foto. Quem achou que fosse Raimundo ou Francisco, errou!

Demerval trabalhou 50 anos no Palacete Gonzaga! C I N Q U E N T A! Tem até plaquinha no prédio e artigo de jornal falando dele! Justo, né?

Ele foi o ascensorista do prédio. Por sorte sua aposentadoria coincidiu com a modernização do elevador (sem que a ruptura fosse dramática). A manivela está aposentada também! Mas há um final feliz nessa história, o Demerval cobre as férias da Maria e do Francisco.

Eu tenho a clara sensação que ele espera as datas e marca no calendário os dias para isso acontecer. Ele ainda tem um entusiasmo em ficar no prédio que é indescritível. Para vocês terem uma noção, ele conta os anos, meses e dias que ele trabalhou ali. Então todas as férias cobertas é uma oportunidade para aumentar seu “record”. Uma lenda. Nessa foto ele está dando, forçadamente, uma de homem sério, até porque eu pedi para tirar essa foto com ele, não roubei. Mas esse cara adora fazer uma graça, tipo falar uma língua que é mistura de italiano com português incompreensível, mas hilária! Sério, vocês não sabem o que estão perdendo. E ele fala fluentemente, por brincadeira, como se fosse uma língua de verdade! Ah Demerval você também está entre os meus mitos. Eu quero saber fazer com alegria meu trabalho como você faz o seu. Como você me ensinou.

Meus dias sem pessoas como vocês, Demerval, Raimundo, Francisco e Maria, seriam com certeza, bem menos legais. Cada um de vocês cumpre uma função que ultrapassa o zelar de uma portaria. Vocês são guardiões dos nossos lares e trabalhos.

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sobre o autor

Matteo GavazziSócio-Fundador

Nascido em Roma, Itália, onde viveu até seus 20 anos, mudou-se para São Paulo em 2010, fazendo o mesmo caminho e trazendo os mesmos sonhos de Giuseppe Martinelli, um de seus maiores inspiradores. ...

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