Andar a pé…

Sim, isso mesmo.

Nem de bike que está tanto na moda.

Nem de metrô, nem de táxi, nem de busão, nem de nada que ande mais rápido do que seus próprios pés. Andando mesmo.

Foi assim que eu descobri essa textura na calçada da foto acima. Ela imita os traços do prédio que fica em frente.

Como você vai descobrir isso andando de carro? Nunca.

Tenho a sorte de morar, relativamente, perto do meu trabalho, cerca de 2km.

Às vezes eu vou de bike, as vezes eu vou de táxi e agora estou retomando o hábito de voltar a pé, fazer todo o percurso caminhando, sem ônibus e sem metrô.

O mais difícil no início dessa mudança de rotina, é a preguiça.

Dar o primeiro passo, literalmente, não é tão fácil assim.

Um pouco porque estamos sempre mais habituados a ser animais sedentários, que devem reduzir ao mínimo o esforço entre uma cadeira e outra, um pouco porque a cidade as vezes é hostil para pedestres, e um pouco porque estamos sempre na pressa, nossas rotinas não combinam com a “lentidão” do andar a pé.

Certa vez, Armandinho Puglisi, o inventor do bolo de aniversário de São Paulo, disse que o carro é o maior agente antissocial que existe.

Durante a vida inteira ele andou pelas ruas do Bixiga, foi dessa forma que fez tantos amigos, conheceu quase todas as famílias que por lá moravam, e no final de sua vida, já debilitado e com problemas para caminhar, seu filho lhe deu de presente um carro.

Armandinho percebeu como era difícil encontrar seus parceiros de uma vida toda se locomovendo simplesmente de A a B como o automóvel faz. O curioso disso tudo é que, após a sua morte, dedicaram a ele o viaduto que corta ao meio o bairro Bixiga… Coisas da vida.

Foi em um desses meus passeios de volta do escritório, que tive a oportunidade de conhecer uma lojinha de quinquilharias super bacana e com preços acessíveis  no meio do Bixiga (na Rua São Domingos)… Não, não é a badalada Pinheiros, não tem sorvete glamoroso nem barzinho hiptster, são passeios diferentes onde conhecemos a cidade que nunca está de baixo dos holofotes por ser “normal” demais… Aí você deve aguçar seu olhar, captar os detalhes do bairro que também é vivo com seus comércios de rua antigos e quase extintos, lojas que consertam rádios e televisões, cabeleireiros old style de verdade, placas das costureiras que trabalham em casa, pessoas sentadas nos degraus das casas, roupas penduradas nas janelas, portas abertas onde dá pra espiar as senhoras papeando nas salas… É incrível e é São Paulo, a Sampa que você só vai descobrir se andar a pé.

Se você ainda não está convencido, termino esse pequeno relato com alguns motivos pelos quais, para mim, foi legal começar a andar a pé.

1° É inspirador. Olhe para frente, para os lados e para cima. Tenho certeza que descobrirá novas coisas.

2° É saudável. Um passeio de 40min ajuda a eliminar muitas toxinas do corpo. Depois de um dia estressante de trabalho descontrair a cabeça e o corpo é tudo de bom.

Além disso, está comprovado que previne diabetes, ajuda na digestão e libera endorfinas que aumentam nossa sensação de bem-estar.

3° Ajuda a reduzir nossa velocidade de execução. A gente está sempre correndo. Caminhar é o antídoto para a correria.

4° Mais tempo para pensar. Caminhar nos permite ficar um pouco a sós com nós mesmos. Faz um bem danado.

5° Melhora nosso relacionamento com a cidade. Comércios de bairro dependem de quem caminha.

6ۦ° Nos faz descobrir novos lugares. Com o carro você sempre faz o mesmo caminho, o sentido das ruas é que determina seu percurso. Caminhando você pode variar essa rotina, automaticamente muda sua percepção do bairro.

7° Conhecer novas pessoas. Eventualmente, porque não, fazer novos amigos.

Para terminar, pense que faz parte da nossa natureza, está no nosso DNA, a evolução do ser humano veio da mudança de postura. Não fomos feitos para ficar sentados o tempo inteiro, fomos feitos para andar. JUST DO IT.