Reflexões entre “esgotamento” e Horror Vacui

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por Matteo Gavazzi

A oportunidade (vendo o copo meio cheio) de pararmos por causa da quarentena, me fez refletir sobre o nosso ritmo de vida. A verdade é que vivemos quase sempre à beira de um Esgotamento. Com E maiúsculo.

Esgotamento de recursos da natureza, e da vida de nós mesmos.

O mesmo é dado por uma corrida excessiva que estabelecemos cada dia ao sair de casa. E agora, sem poder sair de casa, dentro de casa.

Acredito que todos nós já enfrentamos uma sensação de não conseguir ser produtivo. Realizado. Eficaz.
De sentir que vivemos todas as horas do dia, cansamos, mas não realizamos o que queríamos.

Este período de reclusão veio para trazer à tona esse sentimento.
Produzir nesta nova condição realmente não é tão simples.

Não precisamos estar em um espaço corporativo com chefes e tarefas para sermos produtivos, mas o contato com outras pessoas nos preenche e nos recarrega.

As ideias nascem do contato. São como faíscas. Precisamos do outro para criar o fogo.

Quiçá, por isso, as pessoas estão fazendo jantares com amigos pelo zoom/skype.
Reuniões nem se fala… nunca tiveram tantas por video chamada.

Precisamos preencher o espaço. Este que ficou vazio fora das nossas portas.

E aí chegamos ao HORROR VACUI. O medo do vazio.

Podemos ver ele de duas formas, especialmente nesse momento.

A primeira é o vazio mesmo. As cidades vazias, as praças vazias, as ruas vazias.
A Kenophobia é o medo desses espaços vazios. Na prática é o contrario de Klaustrophobia. Medo dos espaços pequenos, tais como elevadores ou lugares cheios de pessoas.

Mesmo que você não tenha medo, com certeza terá estranhamento em ver uma Time Square, uma Praça São Pedro ou a Avenida Paulista vazia.

As cidades foram feitas para convivermos e vê-las sem pessoas nos tira o “sentido”.

O segundo viés do vazio é aquele que não tem a ver com a geografia do mundo externo. É o nosso vazio interno. Que sentimos a necessidade de preencher com coisas, para evitar pensar nele.

Será que estamos vivendo a vida que queremos?

Nesse momento de mudança de rotina, onde não podemos ocupar nosso tempo com 1001 atividades físicas externas, precisamos olhar para dentro e ver se estamos evoluindo para sermos a nossa melhor versão.

E aí podemos sim, ter vertigens e medos do vazio. É humano e não devemos fugir desse momento de reflexão.

Domenico De Masi, descreve esse momento da história da humanidade como um grande curso de formação obrigatório sobre o mundo que virá e sobre o que estávamos fazendo no automático e que precisa ser revisto.

(Artigo completo original, em italiano: https://www.professionefinanza.com/coronavirus-de-masi-grande-corso-formativo-obbligatorio/)

A conclusão do artigo é que não, não teremos medo de voltar para os espaços vazios.
Iremos ocupá-los com felicidade.

A pandemia deixará, com certeza, novas maneiras de se viver e de conviver, mas acredito que os seres humanos estarão mais próximos após ela. Mais próximos de si mesmos e mais próximos uns dos outros.

O lugar de encontro será exatamente entre o Esgotamento e o Horror Vacui.
Um lugar inexplorado, pois, normalmente, passamos por ele apressados, mas agora podemos parar e observar, para descobrir quem queremos ser hoje e amanhã.

Nos vemos lá!

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sobre o autor

Matteo GavazziSócio-Fundador

Fundador da Refúgios Urbanos, nasceu em Roma, Itália, onde viveu até seus 21 anos, mudou-se para São Paulo em 2010, fazendo o mesmo caminho e trazendo na mala os mesmos sonhos de Giuseppe Martinel...

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