Um passeio arquitetônico no Minhocão – Parte I
VoltarFechado para os veículos todos os dias entre 21:30h e 6:30h e aos finais de semana das 15h de sábado às 6:30h da manhã de segunda-feira, o Elevado Presidente João Goulart, Minhocão para os íntimos, oferece em seus pouco mais de 3km de extensão um dos espaços públicos mais diversos e livres da cidade.
Ali, é possível caminhar, correr, andar de bike, patins ou skate, dançar, praticar ioga, dar um rolê com os pets e um tanto mais de coisas.
Além de tudo isso, ao longo do caminho tem arquitetura e história.
Como se trata de uma estrutura bem longa, vamos dividir este roteiro em em três partes, cada uma com aproximadamente 1km de extensão, apresentadas em um post semanal. Vamos explorar??
Começamos na extremidade mais à oeste, onde a via desce ao nível da rua e se encontra com a Av. Francisco Matarazzo, no chamado Largo Padre Péricles.
Ali está a Igreja de São Geraldo, construção em estilo Neo Basilical Bizantino Românico, inaugurada em 1932, substituindo a antiga capela de Nossa Senhora da Conceição e Santa Cruz, que ali existia desde 1900.
Ao lado da igreja, está seu campanário, onde fica nosso “Sino da Independência”. Chamado de “Bronze Velho”, estava na antiga igreja da Sé em 1822 e soou em celebração quando o então Príncipe D. Pedro proclamou nossa independência.
Foi doado pela Arquidiocese de São Paulo para a Paróquia de São Geraldo em 1942, por ocasião da procissão solene do IV Congresso Eucarístico Nacional, onde está até hoje e ainda repica algumas vezes por dia.
Visitá-lo não é muito fácil, depende de sua capacidade de conversar com o segurança da paróquia e de topar subir os muitos degraus estreitos até o topo da torre….
Ainda na parte de baixo, vale ver, do lado oposto da igreja, um edifício alto, com uma fachada parcialmente curva, pintada em laranja. Em seu térreo funcionou, entre 1947 e os anos 70, o Cine Esmeralda, um dos grandes da era de ouro dos cinemas de rua em São Paulo. Sua sala tinha capacidade para aproximadamente 1.600 pessoas!
Atualmente funciona ali uma loja de tecidos e produtos para a casa. Porém, o espaço original da sala de projeções foi praticamente mantido sem grandes alterações. Entrar na loja é sentir um pouco de como eram as grandes salas de cinema dos anos 40/50.
Subindo no Elevado em si, rapidinho vemos à direita o Ed. Washington, do arquiteto Bernardo Rzezak, inaugurado em 1952, com suas linhas curvas, cores e a belíssima estrutura treliçada da fachada. Interessante também reparar no topo do edifício, onde há um terraço com marquises e pergolados bem originais.
Um pouco mais adiante, agora do lado esquerdo, está o Edifício Pacaembú, de João Artacho Jurado, entregue em 1953.
Embora seu corpo seja monocromático, na parte inferior estão as pastilhas coloridas, portas com decoração rebuscada e nas varandas os guarda-corpo têm as características típicas dos empreendimentos deste construtor controverso que deixou sua marca na cidade.
Caminhando mais um pouquinho, procure este painel que o artista plástico João Nietsche criou para a empena cega de um edifício que está à direita, perto da esquina com a Rua Conselheiro Brotero.
Seguindo adiante, olhando à esquerda, um momento de natureza, no que é fundamentalmente uma longa sequência de edifícios: uma imensa falsa-seringueira, que certamente está ali há muitos anos, apesar de todas as transformações urbanas à sua volta.
Um pouco antes da Praça Marechal Deodoro, ainda do lado esquerdo, os edifícios gêmeos São Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida são dois simpáticos exemplares do estilo Art Déco, com volumetria regular, suavizada por varandas curvas.
Aliás, ao longo principalmente do eixo formado pelas Avenidas São João e General Olímpio da Silveira o Art Déco é bastante presente. Remanescentes da verticalização nestas avenidas entre os anos 30 e 40.
Chegamos ao final da primeira parte deste passeio pelo Minhocão, mas não sem deixar de apontar o Edifício Jóia, na esquina com a Rua Dr. Albuquerque Lins. Sua arquitetura não é incrivelmente bela, mas é marcante. Seus mais de 18 andares lhe dão uma certa imponência e o estilo sempre me intrigou e pareceu proto-moderno, pois embora a volumetria seja bem prismática e a fachada não apresente elementos decorativos, as varandas originalmente inseridas no corpo do edifício e o jogo geométrico proporcionado pelas janelas redondas em uma das laterais, dão um toque ainda Art Déco ao conjunto. Os mais entendidos que eu podem, por favor, fazer suas considerações!
Bateu a vontade de comer ou tomar um café depois da caminhada? Desça a rampa de acesso à Praça Marechal e dê um pulo na Padaria Palmeiras, com mais de 100 anos de atividades. Atendimento simpático e cardápio bem variado – http://padariapalmeiras.com.br
E que tal terminar o passeio assistindo um espetáculo no Theatro São Pedro?
Um clássico teatro de bairro, e o único remanescente deste tipo na cidade, inaugurado em 1917.
Saiba mais sobre a programação neste link – http://theatrosaopedro.org.br
Nos próximo post, seguiremos da Praça Marechal até o Largo de Santa Cecília. Boa caminhada!
sobre o autor
Octavio PonteduraSócio-Proprietário
Nascido em Londrina, vive em São Paulo há mais de duas décadas. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), seguiu carreira corporativa por boa parte da vida, trabal...
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