Quantas histórias guarda um apartamento?

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por Octavio Pontedura

Esta semana, assinei o contrato de venda de meu apartamento. Estranhamente, fiquei mais ansioso e tenso com isso do que quando o comprei.

Me peguei pensando se era mesmo a coisa certa a fazer, se precisava de fato realizar esta venda, se não deveria ficar quieto em meu apartamento e desistir de mudar.

Porém, fui em frente. Abri as portas para que novas pessoas ocupem o espaço que até agora disse meu; além de para o novo em meus dias.

É, a gente se apega às coisas. Ainda mais a uma casa; a nossa casa.

Está tudo ali, no mesmo lugar. Sabemos o que vamos encontrar e até caminhamos no escuro sem topar nos móveis. É nosso ninho, ou como dizemos por aqui, nosso refúgio.

Difícil abrir mão de tanta familiaridade, tanto conforto e segurança.

Mas, a vida impele e nada é mesmo para sempre.

Mudei bastante em minha vida. Da Pato Branco onde nasci para Cascavel, algumas casas em Londrina, de onde tenho minhas primeiras lembranças de infância, até sair do núcleo familiar para Curitiba; “minha” primeira casa.

De lá, voltei à Londrina, me mudei para São Paulo, onde morei em algumas casas diferentes, e então para Accra, de volta à Londrina, um período em Joinville e finalmente aqui para a Capital.

Foram mesmo muitas casas. Porém, em todas elas sempre pensei que o que as tornava meu lar eram as coisas que trazia comigo a elas. Quadros, livros, objetos e até os móveis. Onde eles estavam, era meu lugar no mundo.

Mas sabe do que? Estava enganado.

O faz de uma casa um lar é a vida que experimentamos nela.

Os momentos.

Os amigos.

Um amor.

Um cão em nosso colo no sofá.

Um filme marcante que assistimos por ali.

As lágrimas, os sucessos e os fracassos também.

Estão todos ali, nas paredes, nos espaços. E nos recebem todos os dias quando chegamos, e nos lembram de quem somos. Do que somos feitos.

Nossa identidade são nossas memórias, e onde se mostram mais intensas é em nossa casa.

E a cada dia, em cada lugar onde vivemos e ainda viveremos, se somam às anteriores e consolidam a sensação de pertencer ali. Em meio ao aconchego das lembranças que nos dizem: “Esse é o meu lugar!”.

Quando deixamos uma casa por outra, algo nosso fica por ali e que segue ressoando junto às outras vidas que passaram por lá.

Esta, que logo deixarei, significou um momento de várias mudanças em minha vida.

Aqui tive um longo relacionamento, deixei para trás uma profissão por outra, passei por uma separação, aprendi novamente a viver só, fiz novos amigos, ganhei do destino uma cachorrinha que faz todos os meus dias alegres.

Aqui amadureci e descobri que sou mais forte do que imaginava.

Este “meu apartamento” me recebeu em dias felizes e realizados, igualmente nos cansativos e decepcionantes, sempre com o mesmo alento que diz: “Senta, descansa e se recompõe, que amanhã tem mais.”

Do que vivi aqui um pouco fica. O mais significativo levo comigo. E isso fará de minha nova casa meu novo lar.

Para os que vierem para este teto, deixo a imensa paz e abraço que senti sempre que abri a porta.

Que estejam aqui também a os esperar!

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sobre o autor

Octavio PonteduraSócio-Proprietário

Nascido em Londrina, vive em São Paulo há mais de duas décadas. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), seguiu carreira corporativa por boa parte da vida, trabal...

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