Permita-se gostar! A história do Sr. Mirto

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Por Geraldo Antunes

Uma cliente, a quem atendi faz algum tempo, contou-me um caso ocorrido em sua família, mais precisamente, com seu pai, sr. Mirto (nome fictício).

Nascido, criado e ainda vivendo no interior de Minas Gerais, o sr. Mirto sempre foi homem muito alegre, conversador e muito dado às sinceridades no trato com as pessoas.

Seu espírito aberto e franco, talvez raro nos confins dos sertões mineiros, o trouxeram, na mesma medida, dissabores, alegrias, problemas, soluções e até surpresas. Porém, nada que o fizesse mudar em sua essência.

Preferiria não se relacionar com outra pessoa se soubesse que ali haveria um interlocutor cheio de “pra que isso”, como costuma dizer.

Homem do campo, tinha na relação com a terra o seu sustento e a sua paixão. Não saberia viver longe da lida com a enxada e com o arado. Na verdade, nunca aventou essa possibilidade.

Viver numa cidade grande, nem pensar. Muita gente e gente muito diferente, costuma professar.

Seu verdadeiro sonho era comprar umas terrinhas, que sabia serem muito belas e boas, lá pras bandas ao norte de seu sítio.

Uma ocasião, encheu-se de coragem e foi bater na porteira da referida gleba. Foi recebido pelo proprietário, um homem de aparência tranquila, porém, claramente reservado. Talvez o avançado dos anos…

Expôs suas intenções ao sitiante, que, para sua surpresa e sem grandes maneirismos, perguntou-lhe se queria conhecer a propriedade.

Deixando transparecer, como esperado, sua alegria pelo convite, aceitou imediatamente a gentileza. Começou a fazer, mentalmente, contas e mais contas, imaginando um jeito de arcar com as despesas do possível negócio.

Ao começar o périplo pelas terras, percebeu que eram mais belas do que imaginara e mais produtivas do que pudera supor.

Um sentimento confuso de alegria e tristeza tomou conta da alma de Mirto. Um lugar como esse vai custar, com certeza, muito mais do que posso pagar, pensou.

Contudo, seu estado de êxtase ficava estampado em sua face, diante da beleza e da riqueza de águas e de natureza que percebia a cada colina vencida.

Terminada a jornada, Mirto estava exausto e contente.

Porém, realista e franco como de costume, foi logo dizendo ao proprietário: seu sítio é pra lá de bonito e, além disso, nunca vi terra que devolva tanto a quem nela planta. Não tem o que por, nem o que tirar! Mas não é pra mim. Não tenho como conseguir a paga que o senhor e a sua terra merecem.

O sitiante, sem grandes gestos e com a simplicidade reservada que o caracterizava, respondeu, depois de alguns longos segundos cofiando o bigode ralo:

– O senhor sabe que vem muita gente olhar minha chácara. Todos chegam e, como o senhor, sr. Mirto, ficam de queixo caído com o que consegui aqui. Custam a acreditar no que os olhos enxergam. E, como sabem o custo que uma lida como essa tem, passam logo a desdizer do que viram. A água passa a ser pouca, a natureza se torna ingrata e o que sai da terra mal dá pro sustento da patroa e dos meninos. Compram se puderem pagar nem a metade do que peço. E vão embora de mãos abanando, porque bobo é uma coisa que sei que não sou. O senhor, sr. Mirto, se portou na mesma toada, ficou pelo caminho todo com cara de moleque que vê o prato de mingau pela primeira vez. Até chegar na hora dos conformes. Daí em diante, foi o único que se portou como quem sabe o que é e quer o que viu. Pense num meio de pagar o que acha que vale meu sítio, que eu penso num meio de fazer ele caber no seu bolso. Ele vai ser seu, de um jeito ou de outro.

Mirto voltou pra casa meio tonto de tão radiante, combinado de voltar lá na semana seguinte.

O resto.,. fica pra outra!

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sobre o autor

Geraldo AntunesCorretor Associado

Sabe aquele cara que sabe fazer um pouco de tudo e tem o dom para atendimento? Esse cara é o Geraldo. Sua formação e atuação são multifacetadas. Por vários anos, gerenciou a banca de jornal...

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