Minha(s) casa(s), minha(s) vida(s)…
VoltarUm fusca parado de modo aleatório, na esquina das ruas Vanderley e Caetés, com as portas abertas, motor ligado e ninguém dentro. Essa era a senha para o espanto da vizinhança. Carro roubado, diziam alguns dos vizinhos de ladeira. Carro de algum bêbado, diziam outros. Em comum, apenas o fato de que nenhum dos observadores havia visto ou testemunhado o abandono do veículo. Porém, o comentário que mais me intrigava, do alto dos meus sete anos de idade, eram os feitos à boca pequena, quase sussurrados – carro de terroristas! O ano era o de 1969, o que dispensa maiores comentários sobre a conjuntura política. Morávamos a poucos metros da esquina citada, na rua Vanderley. Minha casa, minha primeira casa. Geminada, construída provavelmente por algum empreiteiro, igual a todas as que existiam entre as ruas Caetés e Campevas. Casa da infância vivida entre a rua e a escola. Do esconde-esconde e do pega-pega. Sempre com o receio generalizado de que os “terroristas” pudessem surgir a qualquer momento.
No ano seguinte, nos mudamos para mais “longe”, para o Sumarezinho, do outro lado da Av. Pompéia. Casa maior, mais robusta, construída por meu pai, marceneiro e engenheiro diletante, e, mais uma vez, numa ladeira. É pra evitar enchentes, diz o velho até hoje. Casa da adolescência, do ginásio e colégio, do futebol diário na rua, da turma que se formava e se conformava de acordo com os ventos e interesses. Da descoberta da música, dos primeiros amores e das juras de amizade eterna. Das conversas em grupos nas esquinas das noites de verão, entorpecidas pelo cheiro das damas-da-noite. Do primeiro emprego. Cursinho e faculdade! Da politização difusa e confusa, própria da idade e do momento. 1984! Final da ditadura, abertura política, anistia e, por fim, Diretas Já! Comícios, discussões acaloradas e muita, mas muita frustração. Ano de mais uma nova casa, no Alto de Pinheiros, mais “burguesa”, mas de muitas festas memoráveis. Pouco vivida por mim.
Hora de começar a pensar em novos ares, em meus cantos, ainda que compartilhados com os amigos para sempre. Minhas próprias casas tornaram-se irresistíveis e inevitáveis. Necessidade de meus próprios espaços… Mas aí já é assunto pra outra hora.
sobre o autor
Geraldo AntunesCorretor Associado
Sabe aquele cara que sabe fazer um pouco de tudo e tem o dom para atendimento? Esse cara é o Geraldo. Sua formação e atuação são multifacetadas. Por vários anos, gerenciou a banca de jornal...
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Ola Geraldo,
Me lembro bem desses tempos, 1969, abertura da av.sumaré e filmagem da novela Beto Roquefele… kkk! Assim como vc, tb morei em um sobradinho no final da Caetés do qual me recordo com muitas saudades meus 5 aos 9 anos, com eventos memoráveis como minha 1a.copa do mundo c/ rei Pelé.
Mais curioso nessa trajetória, no início de “71”, tb viemos morar mais longe, no Sumarezinho que muitos tb chamam de vila madalena :). onde residi até me casar e onde estou novamente morando. Triste ver o perfil do bairro, sendo tomado por Edificios.
Acho que e próprio da idade, compartilhamos experiencias comuns a adolescencia e juventude, o que torna especial aqueles momentos,
Forte abraço
Enéas S.