Por trás do Cambridge
VoltarFruto de uma criação coletiva da Frente de Luta por Moradia (FLM), do Grupo Refugiados e Imigrantes Sem Teto (GRIST) e da Escola da Cidade, e da direção de Eliane Caffé a partir do roteiro que ela escreveu com Luis Alberto de Abreu e Inês Figueiró o filme e o livro “Era o Hotel Cambridge” (escrito pela Carla Caffé, irmã da diretora do filme) trata de uma temática extremamente relevante e atual: os refugiados que vivem em moradias clandestinas pelas cidades na espera por uma moradia digna, através da inscrição em um tal cadastro.
Nessa empreitada a diretora tira de baixo do tapete não somente essa questão urgente, mas outras narrativas mais privadas de forma delicada e muito atenta. Essas tais ocupações não se enquadram nas políticas públicas e, por isso, a clandestinidade e o medo em relação a intervenções que podem vir a qualquer momento ou mesmo incertezas para o caso de um despejo ou coisa do tipo. Esses refugiados – brasileiros ou não – tem, nesses trabalhos, suas memórias visíveis ao expectador. Uma questão internacional que temos a honra de ler e ver retratada e à disposição de todos aqui, na nossa cozinha.
O que ocorre, de fato, é uma narrativa que cria como uma colcha de retalhos juntando histórias, dramas e lutas que são interrompidas no clímax, durante a ocupação do prédio numa ação da PM para garantir o cumprimento de uma reintegração de posse. Trazer um corpo de atores profissionais para o contexto de uma ocupação real garante ao trabalho um resultado esplêndido de espontaneidade, assemelha-se a uma filmagem de um momento real, como de fato aconteceu. Há um rompimento declarado entre a fronteira de realidade e ficção; essa linha tênue é manobrada habilidosamente pela diretora do filme. Ao juntar na cena pessoas com os mais diversos históricos e das mais variadas origens, o trabalho torna evidente uma questão perturbadora pra muitos: essa exclusão não é proveniente tão somente de extrema pobreza, malandragem ou coisa do gênero.
Apontado pela Piauí como “um filme a ser visto e debatido, sobre o qual vale a pena pensar, que deve vir a ser reconhecido como um marco do cinema brasileiro” é, sem dúvida, uma obra para chacoalhar e botar à prova muitos conceitos já que apresenta o outro lado das notícias, que nunca estampam as capas dos jornais e revistas.
Ficha técnica do filme:
Era o hotel Cambridge (93 min.)
Sinopse: O filme conta a inusitada trajetória de um grupo de refugiados que divide com os sem-teto uma ocupação no centro de São Paulo. Na tensão diária pela ameaça de despejo, revelam-se pequenos dramas, alegrias e diferentes visões de mundo dos ocupantes. O filme estreou no 64th Festival de San Sebastián, na Espanha, e já foi exibido na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo (onde recebeu o prêmio de Melhor Filme pelo Voto Popular) e no Festival do Rio (onde ganhou o Prêmio de Melhor Filme pelo Voto Popular, Melhor Montagem e também Prêmio da Crítica Internacional – Premio FIPRESCI).
Direção: Eliane Caffé
Produzido por: Rui Pires, André Montenegro, Edgard Tenembaum e Amiel Tenenbaum
Diretora de arte: Carla Caffé e alunos da Escola da Cidade
Direção de fotografia e câmera: Bruno Risas
Montagem: Márcio Hashimoto
Elenco: José Dumont, Carmen Silva, Isam Ahamad Issa e Guylain Mukendi
Atriz convidada: Suely Franco
Participação Especial: Lucia Pulido e Ibtessam Umran
Gênero: Drama
Produção: Aurora Filmes
Coprodução: Tu Vas Voir (França), Nephilim Producciones (Espanha) e Apoio (Brasil)
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Distribuição: Vitrine Filmes
O livro, lançado pela Editora SESC, pode ser adquirido através do site: http://bit.ly/2r0gL3g.
sobre o autor
Rafael SorrigottoSócio-Proprietário
Arquiteto por formação, corretor por paixão e cozinheiro no tempo livre! Sócio da Refúgios Urbanos, é formado pela UNESP, cursou pós-graduação na FIA Business School, em Negócios do Merc...
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