BEXIGA: HISTÓRIA, COMIDA E MÚSICA BOA

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Por Rafael Sorrigotto

A tradição italiana do Bexiga não é por acaso, tem história! Após a abolição da escravatura o Brasil buscava mão-de-obra boa e barata para as produções de café e açúcar, em franca expansão. Em paralelo, na Itália pós unificação, muitas regiões encontravam-se assoladas por uma crise profunda. Aí juntou “a fome com a vontade de comer”. Foi criado então um grupo que prospectava esse público alvo que o Brasil carecia em suas produções agrícolas; pintavam um sonho lindo de prosperidade no continente sul americano através da divulgação em cartazes pela Itália. Milhares e milhares de camponeses embarcaram rumo ao porto de Santos, na promessa de uma vida boa por aqui. Em São Paulo eram recebidos na Hospedaria dos Imigrantes (onde hoje funciona o Museu da Imigração), de lá partiam para o campo para serem recepcionados pelos seus patrões – os fazendeiros.

Tudo funcionou bem até a crise de 29, que afetou diretamente o valor do café junto à bolsa de Chicago. Concomitantemente, a industrialização dava os primeiros e importantes passos por aqui, o que seduziu muitos dos camponeses a abandonarem o campo à procura da fortuna que poderia vir da cidade grande. Formaram-se assim os primeiros conglomerados de imigrantes, dentre eles a Bela Vista, que era com certeza o mais importante reduto de italianos na cidade, que nesses anos se resumia a ser, nada mais nada menos, que uma união desorganizada de chácaras. Uma delas era a Chácara do Bexiga, que passaria em breve a ser denominada bairro da Bela Vista em 1910.

No início do século XX essas chácaras começaram a ser loteadas e comercializadas; uma delas no Bexiga. Lá, de maneira rápida e desordenada com o objetivo de urbanizar a região o mais rápido possível, resultou num desenho urbano cheio de ruas estreitas e tortuosas, bem diferente de outras regiões arruadas posteriormente, como a malha perfeitamente quadriculada do Jardim Paulistano, por exemplo. Isso proporcionou à região algo único: uma proteção sobre a futura especulação imobiliária, já que os lotes – a maioria deles pequenos – dificultou a possibilidade de verticalização do bairro. Assim a região conseguiu manter muito de sua originalidade e charme, herança da política e traçado dos imigrantes que ali se instalaram.

Junto com eles, muito de sua cultura ganhou espaço e notoriedade por lá. Desde a culinária, estilo de vida dos moradores e, porque não, bola e samba no pé. Em 1920 foi fundado um time de futebol na Bela Vista chamado “Cai-Cai”; dez anos depois os integrantes do time se organizaram e inauguraram o tal cordão carnavalesco, a Vai-Vai. Ícone do carnaval paulistano que leva pra avenida muito das histórias do Vale da Saracura e da herança italiana presente e arraigada na cultura do povo paulistano.

Que tal um passeio ao longo da 13 de Maio no sábado?

Te desafio a resistir à charmosíssima padaria/restaurante Basilicata, ou ao delicioso aroma de tomate misturado com queijo gratinado que toma conta das calçadas. Isso além dos pequenos cafés e lojinhas que trazem ainda mais coisa boa pra região. A escadaria que liga a 13 de Maio à Rua dos Ingleses é um marco, muito do bem aproveitado. Aos fins de semana tem sempre uma fanfarra tocando um pouco de jazz e MPB, aos domingos a feirinha de antiguidades toma conta da Praça Dom Orione e movimenta muito a região!

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Rafael Sorrigotto

sobre o autor

Rafael SorrigottoSócio-Proprietário

Arquiteto por formação, corretor por paixão e cozinheiro no tempo livre! Sócio da Refúgios Urbanos, é formado pela UNESP, cursou pós-graduação na FIA Business School, em Negócios do Merc...

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