Augusta, graças a Deus…

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por Karen Siqueira

Meu primeiro contato com o centro de São Paulo, provavelmente foi na Rua Augusta.

Esperei ansiosa completar 18 anos para poder sair à noite com os meus amigos. Até o momento, meu único contato com a balada tinha sido em matinês na escola com a inspetora do recreio de olho em tudo que fazíamos. Não que eu pretendesse fazer grandes coisas, mas quando você tem seus 15/16 anos, você sempre acha que algo mágico vai acontecer quando você fizer 18. Algo como: você magicamente vai virar adulto.

Pois bem, depois de descer na estação da Consolação e subir a escada rolante do metrô descobrindo os enormes prédios da avenida Paulista, não tive muito tempo para admirar a paisagem, pois meus amigos tinham um rumo certo: o falecido Vegas Club na Rua Augusta, 765.
Descendo o que me parecia um caminho infinitamente longo (sentimento ampliado pela falta de maturidade + ansiedade), chegamos finalmente a fachada clássica de capitonê dourado.

Mais tarde, descobri que eu não sou a pessoa mais chegada do mundo em baladas, mas esta experiência me marcou e desde então eu vejo a Rua Augusta pelos olhos amorosos de quem guarda uma boa lembrança.

Engraçado que pesquisando sobre o tema eu descobri que a rua Augusta sempre esteve presente na vida dos jovens. A via foi aberta em 1891 e junto com ela, vários colégios se instalaram no entorno. Depois vieram os cinemas de rua, o que continuou mantendo os jovens por perto.

Um tempo depois, prédios de uso misto foram construídos na década de 50, o que, de certa maneira, definiu o uso da rua que até hoje é predominantemente comercial.
De lojas de luxo para a elite paulistana, até prostíbulos na desvalorização dos imóveis na década de 70, essa dona Augusta viu de tudo.
Até que os ventos da mudança sopraram de novo por volta de 2005, quando baladas como a Vegas surgiram e trouxeram outro tipo de público para a rua. As casas noturnas e seus frequentadores sem saber participaram da mudança dessa região, já que todo esse agito chamou atenção das construtoras e investidores do ramo imobiliário.

E a Augusta, lugar dos desajustados foi se transformando nos últimos 15 anos pra cá.
Quer ver como essa mudança aconteceu? Te desafio a fazer um exercício.
Abra o Streetview e digite: “Rua Augusta, 810” Depois, no reloginho que aparece logo abaixo do endereço e volte no tempo para 2011. Olhe ao redor e se surpreenda em descobrir como a região mudou.
Casas antigas foram ao chão, algumas até levavam nomes famosos da arquitetura, como foi o caso do edifício Nicolau Schiesser, um conjunto de residencias desenhadas por Rino Levi em 1933, que já estava descaracterizada em 2014, quando foi demolida.

Edifício Nicolau Schiesser, Rino Levi (foto: www.saopauloantiga.com.br)

Essas casas deram lugar a prédios altos e imponentes. Alguns deles, até parecem fora de escala e negam totalmente a existência do pedestre, virando de costas e deixando para quem passa na Rua Augusta, uma empena cega.
Nada que não possa ser resolvido, já que por aqui é normal encontrar surpresas, como uma ou duas empenas cegas que viram tela nas mãos de quem ocupa e reivindica seu espaço na cidade.

Eu espero sinceramente que o sopro da mudança continue por aqui e em breve eu venha trazer a novidade de que a Augusta finalmente tem um parque…Vamos esperar pelos próximos capítulos.

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sobre o autor

Karen SiqueiraSócia Proprietária

Nascida em São Caetano do Sul, morou maior parte da sua vida em Santo André, no ABC Paulista e cursou a faculdade de arquitetura e urbanismo. Mesmo fora da capital, qualquer ocasião era uma boa de...

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