Em tempos trevosos, aposte na poesia!

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Por Geraldo Antunes

Em tempos trevosos, aposte na poesia!

 

Em tempos trevosos, aposte na poesia!

Há uns vinte anos atrás, uma confluência de fatos fez com que esse período se tornasse um dos mais conturbados da minha vida. Mudança de trabalho (ou falta de um…), problemas de saúde na família, separação etc. vieram de forma que parecia que haviam combinado!

-Vamos, vamos, o cara merece um tranco, tá com a vida muito tranquila!!

E o tranco foi grande! E o que sobrou, entre outras coisas, foi uma sensação de falta de chão que jamais havia experimentado. Não chamo de síndrome do pânico apenas porque não consultei um especialista pra cravar… entrava em pânico só de pensar!

Mas os sintomas estavam todos ali, enfileirados e prontinhos pra marchar. Medo de ficar sozinho, medo de escuro, medo de aglomerações, medo disso e medo daquilo! Cheguei a sair do cinema no meio de um filme, não por medo do que rolava na tela, mas por pavor de me sentir minúsculo e desprotegido no meio de tanta gente. Só pra situar, sair do cinema no meio de um filme, só sendo carregado, expulso ou porque o filme queimou, como em “Cinema Paradiso”.

Certa noite, recém separado, sem o cachorro, que, claro, ficou com a ex, sem eira nem beira, fui pra casa, sabendo que o bicho estaria ali, me esperando na cama, pra me atazanar bem na hora de dormir. Não deu outra! Devo ter rolado uns 16 km na cama. Em desespero e sem saber mais o que fazer, levantei-me e resolvi folhear um livro que havia ganhado de natal, uns dias antes.  Livrinho magrinho, do poeta mato-grossense Manoel de Barros.

Fez-se a luz!! Numa sentada, devorei o pequeno volume! E, no seu interior, descobri um mundo simples e leve, mas nem por isso desprovido de conteúdo, que me acalmou e me fez dormir, como há dias não conseguia.

Desde então, passei a procurar e consumir livros de poesia. Sem método e sem preferência por escolas ou padrões. Muitas vezes, o nome do poeta basta pra me animar. Noutras, a indicação de um amigo me orienta, ou de um crítico que eu respeite. O que vale, de toda forma, é ter percebido que há um mundo exclusivo dos poetas, um mundo por onde somente eles são capazes de circular com a naturalidade e o desprendimento de uma criança e com a sabedoria e a coragem de um ancião.

No meu ponto de vista, escrever um romance é como compor uma sinfonia. Grandes temas, abertura, meio e fim. Muitas vozes, vários tons e, quase sempre, um resultado grandioso. Escrever contos seria como escrever música de câmara, com temas e tons mais contidos, alguns poucos instrumentos construindo a narrativa.

Já a poesia me soa como uma sonata composta para instrumento solo, onde a ideia do autor será límpida e clara, no sentido de dizer algo que só uma voz solitária é capaz de dizer. E é aí, justamente, onde encontramos o seu encanto. O poeta é livre para dizer aquém e além do que quer, pois diz o que precisa ser dito, nem que seja só para ele. E é isso o que nos liberta e encanta.

Não seria disso o que precisamos nesses tempos atuais? Acredito fortemente que sim!

Faça o teste. Leia um pouco de poesia antes de dormir, seja ela qual for. Perceba, ao fechar o livro e virar de lado para pegar no sono, como sua mente viajará de modo diferente. Garanto que será uma delícia!

Uma dica: Livraria Zaccara, pequenina, conchegante, bem suprida e com donos pra lá de simpáticos e atenciosos, além de conhecedores…

Algumas indicações (absolutamente subjetivas!!) de poetas: Manoel de Barros, Manoel Bandeira, Drummond, Murilo Mendes, Nicanor Parra, Eugenio Montale etc. etc. etc. etc…

 

 

 

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sobre o autor

Geraldo AntunesCorretor Associado

Sabe aquele cara que sabe fazer um pouco de tudo e tem o dom para atendimento? Esse cara é o Geraldo. Sua formação e atuação são multifacetadas. Por vários anos, gerenciou a banca de jornal...

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