Eu levo esse lance de Refúgios Urbanos muito a sério – Lar
VoltarFui criada pela minha vó, numa casa que deve ter uns 60m2, com apenas um dormitório.
Dividi durante muitos anos esse único quarto com a minha avó e a minha tia, enquanto meu tio dormia na sala. Nosso Lar. Era uma casa essa simples no sentido mais significativo da palavra. Paredes irregulares, um cimentão queimado que era tingido de vermelho na cozinha, piso de taco bem batido na sala e no quarto.
Mas eu sei o que essa casa engraçada significa para a minha avó. Luta.
Ela ficou viúva muito cedo, criou 6 filhos sozinha e sei que muitas das coisas que tem na casa dela, foi ela mesma que fez.
Construiu a casa com as mãos e suor.
Algumas pessoas escolhem seguir pelo ramo da arquitetura pelo excesso de referências na vida. Outras, pela falta.
Eu me encaixo mais no segundo grupo.
Assim desde muito cedo eu comecei a sonhar em como seria quando eu tivesse a MINHA CASA, folheava as revistas de arquitetura e decoração sonhando em ter meu próprio quarto.
Aos 15, minha avó me ensinou uma lição muito valiosa: nada é impossível, pode ser mais difícil pra alguns. Mas não é impossível.
Foi assim que eu comecei a construir, dia após dia, o lar dos meus sonhos.
Trabalhava como garçonete em um buffet infantil. Ganhava 80 reais por semana. E foi assim que o sonho começou.
De colher em colher, de copo em copo, fui comprando pequenos itens. Enchi uma caixa de sapato.
Depois, mudei pra uma caixa maior.
E permaneci anos fazendo isso.
Quando sai da minha avó, aos 24 anos, tinha algumas coisas que eu havia comprado a muito tempo. Minha cafeteira por exemplo, já tinha três anos quando foi usada pela primeira vez. Assim como alguns lençóis, minhas cadeiras, minhas panelas…
Nesses tempos de isolamento eu ando sempre olhando ao redor e ficando feliz com tudo que já conquistei. Sei que tenho um longo caminho ainda a trilhar, mas é legal se lembrar de olhar para trás e celebrar tudo o que você já viveu.
Ouvi falar uma vez que o nosso lar é uma construção que nunca termina e essa frase nunca saiu da minha mente, isso porque ela pode ter dois significados conectados.
O primeiro seria sobre o seu imóvel. Me considero uma pessoa inquieta, sempre estou pensando numa maneira diferente de arrumar o armário de panelas da cozinha, de mudar algumas coisas de lugar, de otimizar meu tempo e espaço. E se for pensar no significado subjetivo poderia muito bem considerar o lar como nós mesmos, estamos sempre em mudança constante, de pensamentos, de hábitos, adquirindo informações…Nós somos os lares em constante construção.
Eu levo esse lance de Refúgios Urbanos muito a sério.
Enquanto eu penso nas mudanças do meu lar, você já pensou no seu?
sobre o autor
Karen SiqueiraSócia Proprietária
Nascida em São Caetano do Sul, morou maior parte da sua vida em Santo André, no ABC Paulista e cursou a faculdade de arquitetura e urbanismo. Mesmo fora da capital, qualquer ocasião era uma boa de...
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Karen, que lindo texto.
Obrigada por essa reflexão tão delicada sobre o lar em nós.