Hoje eu entreguei as chaves…
VoltarHoje eu entreguei as chaves do meu antigo apartamento.
Pois é, na minha vida adulta e de “Refugiada” já é a terceira mudança que eu compartilho aqui com vocês.
Saímos do apartamento na Augusta e fomos para a república. Encontramos um apê que nos atende mais hoje em dia, com uma área externa deliciosa.
Mas com a entrega das chaves veio uma reflexão.
Quando a gente começa esse processo de mudança, é como se, dia após dia, a gente vai se desligando do espaço que estamos e vamos nos conectando com o novo.
Tive um pouco mais de um mês para arrumar toda a minha mudança e fazer uma pequena reforma no apartamento novo. Tempo mais que suficiente para eu me desapegar e criar uma conexão com o novo espaço que habitaremos (eu, Miro e Narcisa).
E foi o que aconteceu. Me mudei há duas semanas e estou em lua de mel com o apartamento novo.
Até entregar as chaves do apartamento antigo…
Fui na vistoria e pela primeira vez prestei atenção naquele apartamento vazio.
O primeiro sentimento foi um flashback.
Me lembro da primeira vez que entrei nesse lugar, o que eu senti e a certeza que eu tinha de que moraria ali. O segundo foi um mix de apego com tristeza. Fui até a varanda, olhei para a marquise e ali estava. Mãe de mil.
Ou mãe de milhares.
É uma suculenta. Na verdade, a primeira suculenta que a minha mãe me deu.
Ela tem folhas levemente arredondadas, de um verde claro e nas pontas das folhas nascem pequenos brotinhos, que florescem onde caem.
Naquele momento me lembrei de tudo que eu vivi naquele espaço. Aquele apartamento, no qual eu vivi um pouco menos que dois anos me viu sorrir, chorar, festejar e onde eu fiquei quarentenada em 2020.
Me veio também a lembrança da minha mãe e do nosso final de semana de despedida.
Tudo aconteceu naquele apartamento e um aperto no coração surgiu quando pensei que aquelas lembranças, de momentos importantes, estavam eternizadas naquelas paredes.
Entendi o que os proprietários sentem quando se deparam com aquele fatídico momento de despedida do imóvel antigo.
Quantos de nós corretores, já ouvimos dos nossos clientes o quanto aqueles espaços, que eles estão deixando para trás foram significativos em suas vidas. Espaços onde filhos nasceram e cresceram, onde houve alegrias de uma vida toda, amor e todo tipo de momento.
É engraçado pensar o quanto os nossos lares carregam lembranças.
Imagina poder escrever um livro de “memórias póstumas de um apartamento”, o quanto cada parede tem a nos dizer do que já foi vivido ali.
A vistoria acabou, eu fechei as portas daquele apartamento vazio cheio de lembranças e entreguei as chaves, sabendo que parte de mim ficou lá. As minhas vivências enraizadas na parede.
E claro, uma parte física de mim, já que as mães de mil da minha mãe floresceram em meio a sujeira da marquise.
E as lembranças? Coloquei dentro da mala e guardei com muito carinho em um pedacinho da minha memória, pra eu poder acessar sempre que eu quiser.
sobre o autor
Karen SiqueiraSócia Proprietária
Nascida em São Caetano do Sul, morou maior parte da sua vida em Santo André, no ABC Paulista e cursou a faculdade de arquitetura e urbanismo. Mesmo fora da capital, qualquer ocasião era uma boa de...
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Me senti na vida da minha vó,mulher guerreira e batalhadora que quando se mudou da sua antiga casa para ficar mais perto dos netos e sua única filha me encheu de saudade de lembrança da minha infância que a fizeram derramar lágrimas antecipadamente pela perda!Mas fiz igual seu texto esplêndido,guardei no cantinho da memória para quando a saldade bater nos duas , melhor dizendo nós todos da família nós deliciar com nossas memórias.
Que texto mais lindo, Karen! Me emocionei com você e com as lembranças de minhas despedidas das tantas casas que já foram minhas. Obrigado por me aquecer o coração nesse dia!
Lindo texto Karen!! E adorei a ideia das “Memórias Póstumas de um Apartamento”!! Sensacional rsrs…