Carta – Martinelli
Carta – Edifício Martinelli
Quando cheguei em São Paulo, há 5 anos, me senti perdido. A cidade imensa. Pessoas andando pra lá e pra cá sabendo muito bem aonde iam. E eu, perdido no meio daquela multidão. Sem direção. Só os prédios ficavam “parados” para que eu pudesse começar a me orientar no meio de tanta confusão. Guardadas as devidas proporções, acredito que provei a mesma sensação de muitos italianos emigrantes ao longo de todo o século passado. Aquele mix de entusiasmo e medo. Desnorteamento e vontade de fazer acontecer. AMÉRICA! Ou, no meu caso especifico, BRASIL! Terra de oportunidades! O Brasil era minha América!
Não tendo carro nem carroça, minha vida seguia o ritmo dos meus pés. Eu andava assim me perdendo pela cidade. Impossível conhecê-la toda e muito difícil entender sua lógica. A região que me soava mais familiar era o centro. Por lá as ruas me pareciam conhecidas e os prédios me lembravam a Europa. Em uma palavra: CASA!
Alguns tempos depois, em uma dessas andanças pelo centro velho, encontrei pela primeira vez o Martinelli. Me maravilhei com a riqueza de detalhes, me maravilheis que não custasse nada subir na sua cobertura, me maravilhei com a vista., Rresumindo: me maravilhei com tudo desse edifício! Foi amor à primeira vista. Daqueles que abrem um nóo’ no estômago, daqueles que não podem esperar pra serem vividos.
Por minha sorte não precisei esperar muito para viver essa paixão. Chegando na cobertura conheci o Cabral. Esse senhor é o guardião de todas as histórias do prédio, faça sol ou faça chuva estará lá, normalmente de terno, gravata e óculos escuros, contando para as turmas que por lá passam todas as curiosidades e causos deste edifício magnifico. Foi pelas palavras do Cabral que soube que aquele edifício tão lindo e imponente tinha sido construído por outro italiano, Giuseppe Martinelli, emigrado aos 22 anos sem um tostão no bolso um século antes de mim.
Escrevendo parece até fácil, mas o processo foi repleto de dificuldades e não se pouparam esforços para deixar a obra de pé
O prédio foi embargado várias vezes por ser uma construção incrivelmente alta para época:, 35 andares em uma cidade onde a maioria dos prédios nem chegava a dez10.
A fim dePara calar as polêemicas, o Conde Martinelli construiu sua casa no topo do edifício para que as pessoas o considerassem seguro. Essa história é igual para todos os emigrantes. Todos devem construir seu Martinelli, todos devem demonstrar que são bons no que fazem, cada qual com suas diferentes capacidades, ambições e proporções. Aquele dia ficou na minha memória. Desde então o Martinelli é pra mim um símbolo de força e garra. Às vezes, emno meio àsdas minhas dificuldades, olho para ele, como se fosse uma catedral no meio de um deserto de concreto, e penso que nada é impossível pra quem segue seus sonhos., Oo Cconde Martinelli me ensinou isso: quem sonha, tudo pode, até arranhar o céu.
Matteo Gavazzi