Carta – Guaporé

O Edifício Guaporé foi um presente do acaso. Morar aqui me mantém próxima da São Paulo que amo, ao lado do centro antigo, da Praça Roosevelt, da rua Augusta, Avanhandava e avenida São Luiz, de cada cantinho de história dessa cidade. E dentro de casa continuo vivenciando a história através deste edifício. Aos 29 anos, após estudar muito para concursos públicos, finalmente fui nomeada. Sai do interior de São Paulo e me mudei para a capital. Inicialmente, queria morar no Copan, mas não encontrei nada que me agradasse e coubesse no meu bolso. Foi então que me foi mostrado um apartamento no Guaporé como segunda opção. A princípio hesitei, pensei muito e me mudei pra cá. Assim como Caetano, “quando cheguei por aqui eu nada entendi”, mas meses e meses foram passando e fui me acostumando à cidade e ao apartamento (que nos primeiros dias era tão pouco familiar como qualquer quarto de hotel). Por sorte, acaso, destino ou o que quer que seja, o edifício ficava próximo ao meu trabalho, o que me trouxe muita qualidade de vida. Após 3 anos morando no Guaporé, fui nomeada em outro concurso, havendo a possibilidade de mudança de cidade ou trabalho em local muito distante. Novamente a sorte, o acaso ou o destino me mantiveram aqui, e meu atual local de trabalho fica mais perto ainda. Que alívio foi não ter de sair do Guaporé! Cinco anos já se passaram desde minha mudança para São Paulo e continuo aqui. A cada dia percebendo detalhes diferentes no edifício, portas, fechaduras, fachada. Descobrindo sua história com a ajuda do “Prédios de São Paulo” e notando, com muita satisfação, o esforço para conservá-lo. Nada é tão importante quanto preservar a história de um lugar. É incrível caminhar a pé, ir à praça, pedalar, cruzar com inúmeras e diversas pessoas e locais. Nada mais cosmopolita que o centro de São Paulo e sua arquitetura. Tão cosmopolita quanto o Guaporé, com seus antigos moradores que aqui estão desde sua construção, e jovens moradores começando a construir seus lares. Hoje sinto orgulho de aqui ter construído meu lar, ter paz, felicidade e qualidade de vida. Contudo, ainda existe o desejo de trocar este apartamento, de cerca de 40 metros quadrados, pelos maiores e avarandados na parte frontal do edifício. Mas ainda chego lá…

Ana Roberta Borbato Gândara

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