Vila Buarque: quando a rua vira casa, o bairro vira refúgio.

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ENTREVISTAS

A Vila Buarque é um bairro cheio de história e personagens. Uma verdadeira comunidade que se articula em prol do coletivo.

Como é bom quando a gente se reconhece no lugar onde a gente mora ou trabalha, dessa forma, sentimos como parte da comunidade! No mês de dezembro os rostos dos moradores da Vila Buarque ganharam as ruas em uma exposição de lambe-lambes e projeções noturnas formadas apenas por rostos dos moradores. Assim, escolhi um desses rostos, que está por trás desse projeto para contar para vocês um pouco desse bairro tão querido.

Nome: Priscilla Torelli

Profissão: jornalista

Primeiramente, conta um pouquinho da sua relação com o bairro:

– quantos anos você mora no bairro? 

Há quase 20 anos

– seu lugar preferido?

A Praça Rotary, que considero o epicentro do bairro.

– um jeito bacana de perder tempo no bairro?

Em tempos não pandêmicos, é claro, gosto de sair à deriva. Caminhando, entrando em comércios tradicionais e conhecendo os novos e, especialmente, perceber a riqueza arquitetônica que a Vila Buarque guarda. Muitas vezes ‘investigo’ com meus olhos as construções do bairro. Olhando pra cima, vendo os detalhes dos edifícios – especialmente os construídos até os anos 1960 – os meus preferidos! Mas também percorro com o olhar os detalhes das portas e portões originais e fico imaginando muitos deles como eram sem grades nas suas entradas, como em geral foram concebidos em seus projetos originais. Também gosto muito dos prédios antigos sem recuo.

Adoro ir aos cafés e também saborear as comidas e conferir a cena gastronômica do bairro.

Uma outra coisa que gosto muito de fazer ao bater perna por aí é ver a arte de rua. A diversidade e qualidade dos grafites e dos lambes espalhados pelo bairro.

E conversar com os vizinhos, fazer novos amigos…. enfim, de me sentir pertencente à comunidade e também estimulá-la! Claro que em todos os meus passeios, vou fazendo fotos e vídeos – gerando conteúdo – pro insta que faço, o @vilabuarque.

– prédio preferido:

Gosto muito do IAB. Indo um pouquinho mais pras “fronteiras do bairro”, do edifício Domus, que já tive oportunidade de conhecer um belíssimo apartamento, que preserva todas as qualidades da obra original num trabalho impecável de restauro, e do Prudência, que tive a sorte de morar por um tempo. Sem falar do Copan, é claro. Tenho até um quadro do letreiro do térreo na sala!

Mais recentemente, sinto um amor profundo com o Edifício Jaçatuba, do arquiteto Oswaldo Bratke. Faz pouco tempo que comecei a estudar mais sobre ele e ando apaixonada pelo prédio!

Mas a Vila Buarque é repleta de edificações lindas e importantes pra história da cidade. Amo conhecer cada pedacinho da Vila Buarque e sempre me surpreendo!

– área verde favorita:

Sem dúvida, aqui no bairro, é a Praça Rotary.

– um personagem do bairro:

Posso citar três? O Ceará, do Bar do Ceará (rua Major Sertório, 607), e o seu João, da Fibersal (R. Dr. Cesário Mota Júnior, 278). E o Bruno, que faz a ocupação artística no Gradil da Praça Rotary. Chama Rave Infinita. Acho que a obra dele foi absurdamente valiosa para a Vila Buarque nesta pandemia.

Por que a Vila Buarque é um lugar especial?

Ao mesmo tempo que está inserida na região central e numa área cosmopolita da cidade, ela ainda guarda características de uma cidade do interior, tem um quê semelhante a um vilarejo. Porém, em pleno coração pulsante da maior cidade da América do Sul! Além de tudo, as facilidades de mobilidade e a variedade do comércio, faz com que você possa fazer absolutamente tudo por aqui. E sem precisar de carro!

Então, conta um pouco sobre o Instagram @vilabuarque!

Sempre gostei muito da região, há 45 anos conheço o bairro. Mas em 1990 fui fazer Faap e estagiei em uma grande agência de publicidade, bem ao lado de minha amada Praça Rotary. E, há quase 20 anos, quando vim trabalhar na sede de uma grande instituição educacional da região, optei por morar pra esses lados. Antes, num apartamento na Maria Antônia. E, há dois anos, num novo apartamento. Na verdade, novo pra mim. Ele é da década de 1960 e tem “paredes de verdade”, pé direito bem alto, pastilhas hexagonais originais, chão de taco preservado…. e ainda tem varanda e uma bela vista pra praça Rotary!

Mas, respondendo à pergunta sobre o insta, sou uma pessoa absolutamente apaixonada por fotografia e pelo bairro. Comecei fazendo ele pra unir essas duas paixões, de forma completamente despretensiosa. Mas ele foi crescendo e hoje somos mais de 9 mil pessoas. E eu sempre falo, por ele ter essa pegada colaborativa, eu não faço ele sozinha. Sou eu e mais 9 k juntos!

É muito bacana, pois sou “obrigada” (no melhor sentido da palavra), a estudar mais sobre o bairro pra poder contar na página. Além disso, há alguns seguidores que não conhecem a história do bairro e a importância da Vila na trajetória cultural e política do país. E é aí que eu entro também compartilhando essas informações.

Vou contar uma história – que na verdade são muitas – que rolaram no insta @vilabuarque durante a pandemia. Centenas de pessoas, incluindo seguidores, tiveram que se reinventar. Quantas pessoas não perderam seus empregos? Muitas começaram a fazer pão, bolos, brigadeiros…. e eu tive a oportunidade de poder ajudar a muitas, muitas delas. Além do comércio local, que também foi muito afetado. Há várias histórias, mas essas são a que fizeram diferença na vida de muitos!

E como é o Projeto @acaradoslugares e por quê a vila Buarque foi escolhida?

O projeto chama “A Cara da Vila Buarque”. Ele é uma etapa do Authentic Portrait – Cara dos Lugares, iniciado em 2008 pela artista visual Bia Ferrer e que conta com mais de 6 mil retratos tirados em dez países.

Conheço a Bia há quase dez anos já. Ela, que mora na região central da cidade, no começo da pandemia viu como o perfil @vilabuarque – que ela segue há tempos – estava se movimentando e fortalecendo a comunidade e o comércio local. E foi aí que ela me convidou pra fazermos juntas este projeto lindo. E, pela primeira vez, de forma colaborativa. As pessoas nos enviaram fotos. Houve também 3 saídas pontuais para termos imagens de pessoas que não têm Instagram e são pessoas ímpares e importantes para o bairro! Incluindo moradores em situação de rua. Pois é essa diversidade que faz a Vila Buarque ser a Vila Buarque!

Por onde estão espalhados as caras da Vila Buarque?

Fizemos uma grande projeção da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) em 2/12. E os lambes, que foram colados pelo bairro, podem ser vistos em 7 lugares. Aliás, esta é uma exposição possível nesses tempos de Covid. É da rua para a rua e a pessoa não precisa se deslocar muito para vê-la.

Aliás, disponibilizamos a todos os participantes fotos em alta resolução do dia da projeção. Ou seja, de cada um projetado na empena da FESP e com a Vila Buarque ao fundo!

A exposição pode ser vista nos endereços do do bairro:

Ateliê de Tui Falcão – Rua General Jardim, 562 (@tuifalcao)
Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182 (@aliancafrancesasp)
Elevado Bar – Rua Jesuíno Pascoal, 16 (elevado_bar)
Fashion Higienópolis –  Rua Dr. Vila Nova, 315  (@fashionhigienopolis)
Livraria Martins Fontes – Rua Dr. Vila Nova 309 (@martinsfontespaulista)
Minas Reciclagem –  Rua Bento Freitas, 288 (@minasreciclagem)
Pratada – Rua General Jardim, 160 (@pratadasp)

Assim, agora com o projeto concluído, qual o impacto que os dois projetos fizeram ou fazem no bairro?

O projeto A Cara da Vila Buarque ainda teve um desdobramento para o Sesc Consolação. Lá, Bia e eu demos um curso de fotografia, intitulado Mais olhar e menos técnica, fizemos uma live e estamos publicando no perfil deles a história de dez moradores.

Todo este processo para o A Cara da Vila Buarque tem trazido uma sensação de pertencimento. Traz ainda um senso de comunidade. E é possível se ver, se reconhecer, avistar amigos…

Além disso, foi a possibilidade de fazer uma espécie de aglomeração, de trazer todas essas pessoas para que ocupem o bairro e possamos conhecer os seus sorrisos em segurança durante essa pandemia.

E esta é uma exposição possível neste momento, pois os retratos estão expostos a céu aberto e as pessoas nem precisam mudar o seu itinerário. Ela vai passar pelas intervenções enquanto vai ao supermercado, à padaria, mas também não deixa de ser um convite para quem está sempre em um mesmo quadrilátero a circular e conhecer melhor o bairro onde vive!

Por fim, o que é um Refúgio Urbano para você?

É um lugar que a gente pode se recolher. É o nosso lar, um ambiente sagrado. O ambiente que atualmente passamos a maior parte de nossa vida neste momento. Pode ser a casa. Pode ser o seu bairro.

E a nossa casa, o nosso refúgio particular, se transformou em muitas coisas ao longo dos últimos meses. Agora é o escritório, a sala de aula do seu filho (sim, tenho um pequetucho aqui, o Pedro). E por aqui fazemos de tudo para ser um lugar que nos acolhe e quase seja um espaço para renovar as energias, sempre carregado de afetos.

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sobre o autor

Luciano RodriguesSócio Proprietário

Urbanista e Paisagista, formado em Arquitetura, viu a possibilidade de mudar sua carreira atuando na Refúgios Urbanos ao lembrar do passatempo de infância com sua mãe visitando stand de vendas e de...

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