Descrição
Charme geométrico na Bela Cintra
Projetado pelo arquiteto Israel Galman, em 1957 e entregue em 1960, o Edifício Suzana ainda destaca-se na paisagem da Rua Bela Cintra. A inovadora concepção volumétrica demonstra preocupação com o conforto e privacidade dos moradores, simbiose perfeita entre intenções estéticas e funcionais. A meticulosidade com que cada pormenor foi pensado pelo arquiteto expressa a excelência do conjunto.
As principais animações plásticas estão nas laterais do edifício, marcadas pela diagonal e interligadas através da fachada frontal quase cega, com poucas aberturas, que realça o caráter alternadamente aberto e fechado da obra.
A fachada frontal é voluntariamente simples, até mesmo apagada, não criando rivalidades visuais com as faces laterais, onde elementos visuais se destacam. As esquadrias configuram-se como caixotes de vidro destacados do corpo do edifício, são voltadas à Norte, recebendo boa insolação. Os caixilhos dividem-se em quatro partes, constituem um fechamento translúcido aos apartamentos e recebem luz natural abundante. Estas grandes superfícies envidraçadas, com aproximadamente 2,5 metros de largura, estão apenas nas salas e quartos, mas influenciam na iluminação de todo apartamento, em sua maioria com 50 m² de área. As proteções estruturais destes caixotes dão privacidade aos moradores. Na fachada oposta, destacam-se os cobogós (elementos pré-fabricados de concreto), que trazem iluminação e ventilação naturais para o hall dos apartamentos, fomentando um efeito delicado de luz e sombra que se projeta nos corredores. Os cobogós acompanham o desenho das esquadrias, uma composição de quadriláteros com diferentes tamanhos.
O edifício apresenta uma sutil oposição entre materiais naturais e artificiais: o revestimento predominante na fachada contempla uma discreta composição de pastilhas acinzentadas, espaçadas com materiais em seu estado bruto, sem revestimentos; enquanto o muro de pedras traz uma simplicidade rústica à entrada do edifício e delimita um pequeno jardim lateral, incluindo árvores de grande porte. As pedras portuguesas da calçada, que adentram o hall do edifício, garantem a continuidade deste com a rua. Os pilotis garantem o térreo livre e sustentam o edifício, posicionados nas extremidades, avançam parcialmente em relação ao alinhamento da fachada. O prédio passou por reformas recentes, principalmente no térreo, onde o hall foi reconstituído para tornar aparente os revestimentos originais, que estavam encobertos por revestimentos instalados posteriormente. O piso original, de pedra, reapareceu, aproximando ainda mais a intimidade entre a calçada e os jardins. O mural de azulejos ficou ainda mais evidente com a substituição das portas fechadas pela transparência dos painéis de vidro. Foram feitas reformas também para aumentar os pontos de iluminação noturna nas áreas comuns, que abrigam atividades não previstas originalmente no projeto de Galman: o estacionamento não existia, havia apenas uma área livre no térreo; a lavanderia, que atende a todos os apartamentos, foi implantada no andar que marca o recuo do volume principal; a cobertura está em obras, para servir como área de lazer, já utilizada por moradores para realizar caminhadas ou tomar um banho de sol, bem como um espaço de contemplação, com vista quase total para o skyline da cidade de São Paulo. O jardim no térreo, com desenhos de piso em formas orgânicas, estava degradado e passou por uma nova concepção paisagística, inspirada nas florestas tropicais brasileiras e no trabalho do paisagista Burle Marx. Foram escolhidas plantas como arecas, costela de adão, bromélias, agaves, lírios da paz, palmeiras, entre outros.
O edifício possui duas configurações de planta: com 1 dormitório, que compõem a parte central do prédio e outras unidades com 2 dormitórios, sendo estas localizadas nas extremidades do edifício.
Texto: Marina Miraldo
Revisão: Felipe Grifoni
Fotografia: Marcello Orsi