Descrição
Delicado contorno modernista na década de 50
O Edifício Primavera é um grande marco da Arquitetura Moderna, tanto na “causa” quando no “estilo”, foi o primeiro projeto construído do arquiteto João Kon, quando ainda era estudante, cursando seu último ano de graduação, com apenas 21 anos de idade. A concepção estrutural foi desenvolvida por seu irmão, o Engenheiro Samuel Kon, o pai de ambos foi o responsável pela incorporação. O edifício possui uma riqueza histórica disfarçada pela forma delicada com que se apresenta no bairro dos Jardins, na Rua Peixoto Gomide, a 300 metros do Parque Trianon.
O projeto inaugura uma série de outros edifícios construídos no bairro pelo arquiteto. A meticulosidade com que cada pormenor no edifício foi elaborado por Kon, ratifica a excelência da obra, com apenas seis andares. A volumetria é regular e não ignora a simetria, utiliza cores suaves, que atenuam os elementos estruturais, sobressalentes no plano da fachada. As linhas ortogonais da fachada contrastam com as curvas utilizadas em outros elementos, como pilotis e as aberturas na marquise de cobertura, cujo desenho foi inspirado no MoMA, assim como seu antecedente o Edifício ABC, projetado por Oswaldo Bratke e o contemporâneo Nações Unidas, concebido em 1953, por Abelardo de Souza.
O arquiteto optou por orientar salas e dormitórios para a rua e ao fundo do lote, voltadas à Sudeste e à Noroeste, respectivamente. A sala de estar se abre para um pequeno terraço e as janelas dos dormitórios, dispensam a alvenaria na face da Rua Peixoto Gomide, exemplo de “fachada livre”, implementada na Arquitetura por Le Corbusier. Os painéis, venezianas de madeira, com 9m x 3m, são movidos por cabos de aço, cada folha faz o contrapeso de outra (uma peça desliza para cima enquanto a outra desce, formando o vão central), configurando a chamada “janela ideal”.
A sutil transição entre interior e exterior é marcada pela implantação, o edifício não apresenta recuos frontais e laterais, o térreo possui apenas dois metros afastamento em relação ao passeio e, a partir do primeiro pavimento, alinha-se ao limite dianteiro do lote. Os seis pilotis, revestidos por pastilhas em tom avermelhado, marcam a entrada, delineada por pequenos jardins centrais.
O edifício Primavera possui planta simétrica e quadrada, conta com três dormitórios, sala, varanda, cozinha, lavabo, lavanderia, mais um dormitório e banheiro de serviço. Conta com quatro apartamentos idênticos por andar, articulados ao redor de um único hall, que compartilham a circulação vertical, posicionada no interior do edifício, inclui escadas e elevadores, social e de serviço. Esta configuração permitiu criar um poço de iluminação e ventilação nas laterais do elevador, onde se localizam as aberturas do setor de serviço das unidades.
O Edifício Primavera possui unidades com 148m² de área útil, 3 dormitórios e 1 vaga.
Um pouco sobre João Kon
Nascido em 1933 e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie em 1955, João Kon é um dos diversos arquitetos incorporadores que atuou na cidade de São Paulo.
Entre as décadas de 1950 e 1980, trouxe aos Jardins uma nova forma de habitar, materializada em cerca de 15 edifícios residenciais, incluindo sua primeira obra, o Edifício Primavera, concebido em 1954, quando ainda estava na faculdade. O projeto já apresentava elementos que seriam utilizados em seus projetos futuros, como as “janelas ideais”, pérgolas e cobogós.
Em 1966 torna-se sócio de seu irmão, o Engenheiro Samuel Kon, na Diâmetro Empreendimentos, incorporadora responsável por mais de 200 projetos, principalmente em Higienópolis, é o arquiteto com o maior número de obras no bairro. O arquiteto também projetou nos bairros de Santa Cecília, Moema, Perdizes e Morumbi.
Em 2016 foi publicado o primeiro livro sobre sua carreira, com obras retratadas pelas lentes de seu filho, o fotógrafo e também arquiteto, Nelson Kon. Apesar de pouco conhecido, seus projetos ainda hoje se destacam na paisagem, principalmente pela associação com grandes artistas como Alfredo Volpi, quem desenhou um painel na residência do arquiteto, vale destacar ainda o painel de Gershon Knispel, na fachada do Edifício Selene.
Texto: Marina Miraldo
Revisão: Felipe Grifoni
Fotografia: Marcello Orsi