Carta – João Moura

Antes de decidir ser publicitário, cogitei fazer arquitetura. Sempre gostei.
Quando criança, ao visitar a casa de algum amigo pela primeira vez, voltava para a minha casa e desenhava para minha mãe a minha versão da planta baixa dessa casa. Toda errada, obviamente.

Muitos anos depois, já em São Paulo, quando a F.biz (agência de publicidade onde trabalhei por três anos e meio) se mudou para o prédio João Moura, em Pinheiros, cogitei rabiscar o edifício e mostrar para minha mãe o meu novo lugar de trabalho. Mas foi muito mais fácil e fiel à beleza da construção enviar o link com o projeto, 3D, decoração, vídeos e fotos. Complementei a descrição do prédio com algumas palavras.

A mudança de casa para todos que estavam no escritório anterior foi significativa. Saímos de alguns andares apertados de um prédio comercial no Itaim para uma sede própria, dez andares, cobertura com vista deslumbrante e uma arquitetura destoante no bairro. Destoante e inspiradora.

E para quem trabalha com criação (meu caso), ter o próprio ambiente de trabalho como mais uma fonte de inspiração é motivador. Não à toa, fui um dos responsáveis por um projeto em que, inspirados pelas formas e espaços do prédio, convidamos um artista para pintar alguns muros e paredes, deixando a nova casa com ainda mais da personalidade da F.biz.

Apesar de ser mais um prédio em meio a tantos outros, o João Moura 1144 tem algo que, a meu ver e para o meu trabalho lá, foi fundamental: espaço. Espaço para quem quer ficar sozinho. Espaço para quem quer trabalhar em grupo. Espaço para reuniões. Espaço para comemorações, para festas. Espaço, inclusive, para show de banda internacional (lá na cobertura). Espaço para que bons trabalhos fluam durante o dia com as luzes apagadas e à noite belamente iluminado.

Além do orgulho de todos os trabalhos que fiz para a agência durante o tempo que estive lá, tinha bastante orgulho em dizer onde ficava a agência: “Fica em Pinheiros, perto da Benedito Calixto, aquele prédio que dá pra ver…” E antes que eu terminasse as reações eram parecidas: “Nossa! Acho o prédio lindo!”, ou “(Palavrão)! Aquele prédio é (outro palavrão)!”

Agora, sempre que eu passar pela ponte da Sumaré, sentido Perdizes, olharei para a minha direita e verei as varandas do prédio como os degraus que me ajudaram a subir na carreira.

Parabéns aos responsáveis e obrigado, João Moura (seja você quem for).

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