Carta – Esther
O Edifício Esther fez parte da minha infância, não pessoalmente, mas nas histórias dos meus pais e seus amigos.
Parecia que tudo de mais bacana teria acontecido lá. Foi o primeiro lugar em que meu pai morou, na casa do Di Cavalcanti, a quem ele ajudava preparando telas. Foi o lugar onde minha madrinha, Giovanna, morou quando era casada com Oswaldo Chateaubriand, irmão do Assis, e eu gostava de ouvi-la contar como estacionava o carro dela bem na porta do prédio. Era lá que ficava o “Clubinho”, lugar que meus pais e todos os artistas da época frequentavam.
Quando, já estudando arquitetura, nos anos 80, finalmente parei na frente do Edifício Esther e olhei para ele, decadente, espremido entre construções maiores, mal conservado, perdido na avenida caótica, senti aquela tristeza, como a de ver uma bela e elegante dama mendigando na rua. O mítico Edifício Esther não tinha nenhuma janela inteira.
A sorte é que, assim como eu, outras pessoas também pararam para olhar o prédio, marco da arquitetura moderna no país, e começaram a comprar apartamentos e reformar, cuidar do lugar. Assim, muitas pessoas também passaram a se preocupar com o centro de São Paulo e tentar frear a sua decadência, dando um novo significado aos lugares históricos.
Autora: Mariana Pabst Martins