A Placa é nossa

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por Rodrigo Freitas

Parecia pequena…

Em 1929, São Paulo sofreu a maior enchente de sua história. Passado o dilúvio, a data foi tão marcante que a prefeitura instalou uma placa de bronze na Rua Porto Seguro, na Luz, demarcando o alcance da água. O fato é que a “placa’ é item do inventário de obras de arte em logradouros públicos do patrimônio histórico de São Paulo.

Decidi buscá-la para contar a história da minha cidade para pessoas que sempre estão por perto e, para minha surpresa, descobri que ela havia sido concretada pelo proprietário do imóvel de maneira irregular. Tudo isso para fazer uma rampa de acesso, no caso, proibida.

Denunciei, mandei e-mails para todos os órgãos responsáveis possíveis e apelei para mensagens aos candidatos a prefeito. E não é que deu certo? Foram tantas mensagens que não sei dizer ao certo quantas, até receber uma comunicação da Secretária Municipal de Cultura, que a placa de bronze, colocada há 89 anos para contar parte da nossa história, sete meses depois, voltou a ficar visível.

Não é difícil ter uma cidade mais bonita, mais acessível, de encher os olhos. Basta brigarmos por ela.

 

 

A cidade como nosso quintal

É comum zelarmos por algo que é nosso. Cuidamos do interior de nossas casas; dos nossos jardins; dos espaços no nosso condomínio e de áreas comuns que classificamos como “nossa”. Porém, quase sempre esquecemos de cuidar da nossa cidade. Talvez por não entendermos que ela é, também, nossa e faz parte do nosso lar.

Engraçado é que, muitas vezes, ouço comentários de amigos que viajam para o exterior e voltam admirados com a preservação e conservação de edificações, monumentos e arquitetura, especialmente em grandes cidades europeias. Acredito que seja um esforço unificado entre população e administração pública, ou iniciativa privada, que entendem o retorno social destas ações.

Por aqui? Bom, podemos dizer que nosso olhar é feito sob o ponto de vista do “complexo de vira-lata”, uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues. Segundo ele, o “complexo de vira-lata” refere-se ao posicionamento inferior que o brasileiro, voluntariamente, se coloca em relação ao resto do mundo.

E Rodrigues tinha razão ao dizer que o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. E não é para menos, já que olhamos nossas construções com desdém, temos pena e/ou achamos feio. Não há respeito ou identificação pelo histórico que envolvem prédios, monumentos e construções.

Salvo algumas poucas iniciativas, ainda não temos educação patrimonial. Novamente, citando Nelson Rodrigues, “não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Mas, e aí? Devemos comprar briga, expressar indignação e soltar o verbo? No meu caso, decidi comprar uma briga que, para muitos, pode parecer bobagem, mas valeu a pena lutar.

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