Parque da Água Branca, um refúgio e muita história

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Por Denise Bojikian

Desde muito pequena frequento o Parque da Água Branca, no bairro de mesmo nome, pertinho das Perdizes. É impressionante conseguir acompanhar as mudanças que nele e em mim ocorreram.

Quando criança, ficava encantada com os animais que ali viviam. Pelos meus olhos de menina, tudo era enorme. Os bichos de grande porte, vacas e bois de várias raças, desfilavam na arena para os leilões ou ficavam em exposição nas loooongas cocheiras. Os cavalos causavam admiração e medo de tão altos. Mas o melhor era ficar observando os movimentos, iguais aos nossos, dos macacos. Agora, grande mesmo era a caminhada em meio àquela exuberante mata, com suas inúmeras espécies da flora, até chegar no parquinho. E nesse caminho estavam os pequenos gatos, patos, galinhas, peixes, tartarugas e os bebedouros com boca de leão.

E ninguém falava nada, ou eu não escutava. Tudo isso era permitido, tudo era quase banal, mesmo que houvesse sofrimento para alguns, no caso, os bichos.

Ao longo dos anos o parque passa a ser meu canto de respiro, de exercício, de encontros. E vejo que é assim para muitos, de muitos lugares de São Paulo, um dos espaços mais democráticos da cidade. Surgem aos poucos o Mugeo (museu de geologia), o baile dos idosos, o aquário, a casa do caboclo.

Passaram-se anos e virei mãe. O ciclo se inverteu e passei a levar minha filha ao parque. Os leilões acabaram, mas os cavalos permaneceram e alguns passaram a ter uma função honrosa: equitação de crianças com síndrome de down. As cocheiras viraram espaço para feirinhas de artesanato nas festas.

Há um sentimento misto de querer encontrar os antigos animais e ao mesmo tempo não querer vê-los novamente enjaulados. As jaulas passaram a dar lugar aos livros, brinquedos, teatro. Isso foi lindo. Mas devagarinho retiraram o parquinho feito de tronco de árvores, retiraram várias mesas de piquenique, a maçã do amor e a família da água de coco tiveram que ir embora. Deu briga, deu choro.

Os casarões são um capítulo à parte, imponentes com seus vitrais e fachadas em amarelo queimado. Foram e são sede de várias associações e alojam diferentes cursos profissionalizantes hoje em dia.

Mas o que era antes?

Em 1905 a área do parque foi destinada à Escola de Pomologia e Horticultura que funcionou até 1911. Ficou desativado por um tempo e em 1928 foram transferidas as dependências de Produção Animal e Exposições da Mooca para o parque, criando o Pavilhão de Exposições de Animais.
Em 02 de julho de 1929 todo o espaço, pertencente à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, é inaugurado como Parque da Água Branca na Avenida Água Branca, hoje Av. Francisco Matarazzo.

Depois do tombamento, em 1996, graças a muitas pessoas que se organizaram para preservar esse patrimônio, o parque já passou por restaurações e em 1998 foi criado o Centro Histórico e Pedagógico da Agricultura Paulista. Esse centro promoveu exposições, atividades culturais, eventos, artes e lazer.

Hoje infelizmente o parque encontra-se em situação bem precária, tanto as edificações, jardim, lagos, como os animais que se multiplicaram desordenadamente e mesmo assim estou sempre por lá, continua sendo um de meus refúgios e de quebra ainda dou uma passadinha na feira de orgânicos que adoro. Minha admiração por esse espaço nunca acaba, minha e de minha filha que hoje, já adulta, também frequenta e admira esse lindo lugar.

Recentemente foi aprovada a concessão à iniciativa privada para administrar o parque. Cuidados são de imensa importância, isso não se discute e as mudanças são inevitáveis. Acredito que há uns anos eu ficaria indignada com qualquer mudança nesse oásis. Hoje encaro de outra forma, mas fica aquele medinho com as seguintes perguntas: Onde estão os estudos de impactos ambientais, sociais e econômicos desse projeto? O parque e a população que hoje convivem com esse lugar, terão algum prejuízo? Fiquemos atentos.

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