O Desafio da Motivação

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por Octavio Pontedura

Li uma vez um artigo na Folha de São Paulo mencionando alguns treinamentos, atividades e técnicas de motivação de eficiência duvidosa ou de natureza constrangedora.

A matéria me levou a pensar em minhas próprias experiências de motivação na vida e no desafio constante que é motivar e manter-se motivado.

Lembrei-me de um evento sobre motivação que participei, onde uma das atividades consistia em formar um círculo, iniciado com o diretor e três principais gestores (sendo eu um deles), no meio de um salão vazio, com uma música bastante emotiva ao fundo.
Os demais colaboradores entravam individualmente na sala e eram direcionados para o centro do círculo. Onde ficavam sob os olhares dos demais, que haviam sido orientados a inicialmente não falar nada e manter a expressão mais neutra possível.
Os que formavam o círculo deveriam obrigatoriamente imitar todos os movimentos, reações e falas de quem estivesse no centro, o que causava respostas emocionais das mais variadas: timidez, embaraço, chacota, um certo ar de pavor e inclusive lágrimas.
E o sujeito permanecia ali, sem saber o que fazer ou o que aconteceria, por algum tempo, com a tensão e o desconforto se avolumando, até que uma das pessoas do círculo dizia: “Fulano, você quer fazer parte do time da…(nome da empresa)?”
A óbvia resposta: “Sim”, vinha acompanhada de uma salva de palmas, gritos de “Bem-vindo, fulano!”, a entrega de uma camiseta com o nome da empresa em uma frase de efeito e um lugar no círculo para receber o próximo que entraria para passar pelo mesmo processo.

A empresa convivia com muitos conflitos pessoais entre colaboradores e departamentos. Posturas auto defensivas, agressividade e pouquíssimo espírito de equipe e colaboração, motivação então, nem se fala!

Evidentemente, o exercício pretendia criar um vínculo forte entre todos os funcionários, através de uma experiência desconfortável, para a qual a empresa e o grupo ofereciam a saída e o acolhimento.

E funcionou?

Infelizmente, não.

Minha percepção sobre estas atividades e ferramentas é que seu impacto e intensidade (por vezes dramática e fortemente emocional), causam uma impressão forte, mas não duradoura.
A resposta inicial, cheia de entusiasmo, se perde rapidamente frente à realidade dos dias seguintes.

Diametralmente oposto a este exemplo, trabalhei em outra empresa onde nunca houve nenhum treinamento ou evento de motivação de qualquer tipo.

E foi a melhor experiência que já tive em termos de equipe, comprometimento, colaboração, engajamento e ambiente de trabalho.

A diferença?

– Cultura corporativa forte, disseminada e presente em toda e qualquer situação.

– Valores objetivos, verdadeiros, conhecidos e vivenciados por todos.

– Visão e missão expressos em termos simples e relevantes, gerando metas e desafios coerentes.

– Objetivos estratégicos corporativos compartilhados com todos os colaboradores, independente da hierarquia; e seus desdobramentos formatados para que cada um tivesse ciência de seu papel e relevância para atingi-los.

– Absoluta transparência nos resultados corporativos e departamentais; apresentados regularmente pelos líderes e disponíveis a qualquer momento.

– Liderança acessível, aberta e compromissada com o desenvolvimento de suas equipes.

– Conquistas divulgadas e reconhecidas; falhas tratadas e corrigidas individualmente.

Trabalhar ali foi entrar em um universo conciso e consistente. Onde cada um se via e sentia responsável pelos objetivos da empresa e os percebia alinhado aos seus.

A colaboração era fluida, a comunicação fácil, o respeito constante, discussões e desentendimentos rapidamente solucionados, pois os objetivos maiores eram mútuos e evidentes.

Neste cenário, a motivação era natural. Acontecia sem precisar ser provocada. Em um dia ruim, o colega ao lado me contaminava positivamente em poucos minutos!

É minha opinião que não se obtêm alterações em comportamentos individuais ou de grupo com tratamentos de choque ou imersões de curto prazo.
Trata-se de um processo longo que exige dedicação diária, especialmente por parte das lideranças.

Necessariamente, o profissional precisa se identificar com a empresa, seus objetivos, missão, valores, cultura e o papel ele que executa neste contexto.
A empresa, por sua vez, precisa reconhecer este papel, valorizá-lo e investir em seu desenvolvimento constante.

O conjunto da identificação do profissional com uma cultura corporativa forte, coerente e honesta, alinhado ao trabalho do líder em reconhecer e desenvolver potenciais individuais, em um cenário onde os objetivos sejam evidentes, realistas, as responsabilidades e suas inter-relações conhecidas e partilhadas pelo grupo é por si só motivador.

E de forma muito mais profunda e fértil que qualquer exercício lúdico em um dia de verão.

A motivação existe por fatores individuais, gerados por senso de propósito, identificação e satisfação com o trabalho, visão de futuro e de objetivos a atingir, em meio a uma cultura corporativa que a sustente e mantenha.

Não tenho a intenção de desqualificar em absoluto o uso destas ferramentas e exercícios, a não ser quando criem situações humilhantes ou constrangedoras.
Elas são válidas para levantar questionamentos, desencadear novos hábitos, evidenciar pontos fortes, formar laços de confiança em equipes e muito mais.
Porém, não têm durabilidade como formadoras de um espírito permanentemente motivado.

Manter motivação, aquela energia que nos leva a buscar realizações é um desafio e um exercício diário. Bem mais facilmente alcançado quando há um encontro e sinergia de propósitos.

Quais suas impressões a respeito? O que te motiva? Tem alguma história interessante sobre atividades motivacionais? Escreva pra mim!

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sobre o autor

Octavio PonteduraSócio-Proprietário

Nascido em Londrina, vive em São Paulo há mais de duas décadas. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), seguiu carreira corporativa por boa parte da vida, trabal...

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